Relatório divulgado nesta sexta-feira (10) pelo Serviço Meteorológico Europeu Copernicus confirmou o que os cientistas vinham alertando ao longo do último ano: 2024 foi o ano mais quente já registrado na história das medições e o primeiro em que a temperatura média anual da Terra ultrapassou o 1,5ºC, previsto no Acordo de Paris.
Segundo o relatório, o ano passado foi o mais quente para todas as regiões do globo, exceto a Antártida e a Australásia. Em 2024, diz a publicação, a temperatura média global ficou 1,6ºC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900).
Na Europa, o aquecimento tem ocorrido duas vezes mais rápido que a média global desde a década de 1980, tornando-se o continente que mais aquece na Terra. As terras europeias no Ártico permanecem como a região de mais rápido aquecimento no planeta, e mudanças na circulação atmosférica estão favorecendo ondas de calor de verão mais frequentes. Da mesma forma, os glaciares estão derretendo e há mudanças no padrão de precipitação, diz o Copernicus.
O relatório também chama a atenção para as temperaturas da superfície do mar, que permaneceram excepcionalmente altas, com o período de julho a dezembro de 2024 sendo o segundo mais quente registrado para essa época do ano, atrás de 2023.
Outros dados do documento também chamam a atenção:
- A temperatura média global excedeu 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais durante 11 meses do ano. Fazendo uma retrospectiva, desde julho de 2024, exceto julho de 2024, a temperatura média ficou acima do 1,5ºC.
- Cada um dos últimos 10 anos (2015-2024) foi um dos 10 anos mais quentes já registrados
- Em 22 de julho de 2024, a temperatura global diária atingiu seu maior valor: 17,16ºC
“Todos os conjuntos de dados globais de temperatura produzidos internacionalmente mostram que 2024 foi o ano mais quente desde o início dos registros em 1850. A humanidade está no comando de seu próprio destino, mas a forma como respondemos ao desafio climático deve ser baseada em evidências. O futuro está em nossas mãos – ações rápidas e decisivas ainda podem alterar a trajetória do nosso clima futuro”, diz Carlo Buontempo, Diretor do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus.
Repercussão no Brasil
Os dados do serviço europeu repercutiram dentro e fora da comunidade científica no Brasil. Segundo Patrícia Pinho, diretora adjunta de Pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o aumento da temperatura média regional é muito maior.
“O 1,6°C da temperatura global tem uma variedade muito grande regionalmente. Para o Ártico significa, por exemplo, mais 7°C na temperatura local, o que provocaria degelo. Na Amazônia, são mais 4°C de aquecimento, isso é muito para a população e para o ecossistema”, diz.
Segundo pesquisadores do IPAM e de outras instituições de pesquisa, é mais do que urgente que o desmatamento seja contido no país e que a população nas diferentes cidades e regiões se adaptem aos efeitos das mudanças no clima.
“A comunidade científica já vinha alertando, desde 2023, que 2024 poderia estourar a temperatura limite estabelecida no Acordo de Paris, ainda que brevemente. Este 1,6°C reforça a urgência do compromisso global de se afastar dos combustíveis fósseis e de colocar um fim no desmatamento”, diz Patrícia Pinho.
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