Representantes da equipe de transição do governo Lula e aliados têm tido uma agenda intensa na Conferência do Clima da ONU, realizada no Egito até o próximo dia 18, o que inclui encontros bilaterais com países importantes para a política climática brasileira.
As ex-ministras do Meio Ambiente Izabella Teixeira e Marina Silva, além de parlamentares brasileiros ligados a Lula, já estiveram reunidos com representantes da Noruega e Alemanha, os dois maiores doadores do Fundo Amazônia. Também se encontraram com membros do governo da República Democrática do Congo e Indonésia, para discutir a criação do bloco de florestas nas negociações internacionais, e tiveram agenda com possíveis doadores, como os Estados Unidos.
Os integrantes da delegação oficial brasileira estão bem mais discretos em Sharm-El-Sheikh. Joaquim Leite, mandatário da pasta ambiental, chegou ao Egito no final de semana e teve agenda pública na segunda-feira (15), mas pouco se sabe sobre sua atuação nas relações com os outros países. Nenhuma agenda foi divulgada.
Para Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, a política climática do Brasil – ou a ausência dela – e os resultados negativos na área ambiental nos últimos quatro anos tornaram o país uma “persona non grata” na arena internacional.
“O atual governo não tem agenda bilateral aqui, não tem negociações, porque já é um ex-governo. Na realidade, existe um sentimento geral na Conferência, e não é só por parte da sociedade civil, mas também de outros países, que esse governo já vai tarde. Um governo totalmente irresponsável na questão do clima, que nunca fez questão da agenda e, portanto, o movimento dos outros países era também de não fazer nenhum esforço para ter alguma agenda, porque é um governo que não tem nada para oferecer”, diz Astrini.
Segundo ele, o Brasil costumava ser uma nação esperada nas salas de negociações antes de Bolsonaro chegar ao poder, por sua força e experiência na implementação de políticas climáticas. Essa situação, segundo Astrini, não existe mais.
“Nesse momento, o governo entra na sala de negociação e todo mundo sai dela”, diz.
Os membros oficiais da equipe de transição de Lula, como o senador Randolfe Rodrigues, que fará parte da coordenação do grupo de Desenvolvimento Regional, e os (ainda) não-oficiais, como Marina Silva e Izabela Teixeira, ocupam, então, esse vazio deixado pelo governo Bolsonaro.
“O governo Lula veio para cá com uma agenda absolutamente repleta de possibilidades e de negociações. Pelo simples fato de Lula vir para a Conferência, já mostra o peso que ele vai dar para a agenda. Bolsonaro nunca pisou numa Conferência do Clima”, diz Astrini.
Ele lembra que o Brasil impediu a realização da COP em solo brasileiro em 2019 e o encontro foi organizado às pressas pelo governo chileno.
“É óbvio que as agendas brasileiras vão ser consequências dessa boa vontade ou má vontade que os governos expressam”.
À reportagem, o senador Randolfe Rodrigues confirmou que o atual governo “já foi sepultado” na arena internacional e que os membros do governo Lula atuam para preencher esses espaços deixados por ele.
“O governo oficial existe?”, ironizou o senador. “Nós temos um ocaso de governo. A tragédia foi tão grande que desde a eleição [em 2018], na prática, ele foi sepultado. Junta com isso uma circunstância que é a de que o presidente que está em exercício de mandato não trabalha. E desde que perdeu a eleição, trabalha menos ainda”, diz.
Lula chegou ao Egito nesta segunda-feira (14). Sua agenda ainda está sendo construída, mas já se sabe que ele tem encontro com John Kerry na tarde desta terça. Na quarta e quinta-feiras, Lula tem agenda pública com governadores da Amazônia Legal e com a sociedade civil. Também já está marcado para dezembro um encontro do governo eleito com representantes do governo alemão, para tratar da reativação do Fundo Amazônia.
A Conferência do Clima na ONU segue até o próximo sábado (12), quando se espera um acordo internacional sobre financiamento climático e mecanismos de compensação em perdas e danos seja firmado.
Esta matéria foi produzida como parte do Climate Change Media Partnership 2022, uma bolsa de jornalismo promovida pela Internews´ Earth Journalism Network e pelo Stanley Center for Peace and Security.
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Esperamos, que todas estas reuniões sirva para também reavaliar os caminhos percorridos, pós Marina Silva, no MMA…..que foi queda abaixo….