Manaus, AM — Mais de metade das espécies de árvores da Amazônia estão ameaçadas, segundo estudo publicado em novembro, na revista Science Advances, por um grupo de 158 pesquisadores de 21 países, inclusive Brasil. A boa notícia é que, se realmente protegidas, Unidades de Conservação e Terras Indígenas podem reduzir esse potencial de extinção maciça na região.
Os pesquisadores já haviam estimado há dois anos que na Amazônia existem mais de 15 mil espécies arbóreas. No novo estudo, compararam dados de monitoramentos da região com mapas atuais e projeções de desmatamento, para estimar quantas espécies arbóreas podem estar ameaçadas e onde o problema é mais grave.
Eles estimam que o desmatamento coloque em risco de 36% a 57% das espécies da região, pelos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês). De acordo com as contas, 8.690 espécies arbóreas podem estar sob risco de extinção. Neste cenário mais pessimista, chamado de business-as-usual (BAU) pelos pesquisadores), um terço do desmatamento ocorreria até 2050 em áreas protegidas.
No outro cenário, em que o desmatamento em áreas protegidas seria de 16% do total de floresta perdida, pouco mais de ⅓ das espécies estão ameaçadas. A notícia ainda não é boa, mas reforça a importância de Unidades de Conservação e Terras Indígenas para a manutenção da biodiversidade na Amazônia.
“Nos últimos 50 anos, os países amazônicos formalizaram uma grande rede de áreas protegidas e de territórios indígenas, que agora perfazem 52,2% da bacia: 9% em reservas de conservação estrita e 44,3 % em reservas de uso sustentável e indígenas”, afirma a bióloga brasileira Maria Teresa Piedade, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). “Os modelos do trabalho sugerem que todas as 4.953 espécies arbóreas comuns são protegidas em algum grau por áreas protegidas”.
Os autores do estudo fazem, porém, uma ressalva. Parques e reservas só podem prevenir a extinção de espécies ameaçadas se o ritmo de degradação destas áreas não aumentar. E eles lembram que as áreas protegidas também sofrem ameaças, como a construção de hidrelétricas, mineração, queimadas e secas, estas duas últimas intensificadas pelo aquecimento global. E isto sem contar as invasões de terras indígenas.
Com base neste estudo, eles estimaram também o total de espécies de árvores tropicais ameaçadas em todo o mundo e concluíram que a maioria destas 40 mil espécies está ameaçada.
Não é difícil imaginar também que nas regiões com maior desmatamento na Amazônia o risco de extinção seja maior. “Nas zonas mais afetadas do arco do desmatamento, um terço das espécies arbóreas já perdeu 30% de suas populações para o desmatamento, e mais da metade provavelmente está globalmente ameaçada com base na perda florestal projetada e histórica”, afirma Maria Teresa Piedade. “Reduzir as taxas de desmatamento e aumentar as áreas de proteção nessas regiões seria fundamental para reverter e/ou conter esse processo”, conclui.
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