Em levantamento inédito realizado em nível municipal, o Observatório do Clima produziu um mapa detalhado das emissões de gás carbônico dentro do Brasil. O resultado da lista dos maiores emissores torna óbvio o peso do desmatamento nessa equação. Sete dos dez municípios responsáveis pelas maiores fatias de gases de efeito estufa estão localizados dentro da Amazônia. A liderança é de São Félix de Xingu, no Pará, onde somente a destruição da floresta respondeu por 25,44 milhões de toneladas brutas de gás carbônico equivalente em 2018, cerca de 85% do total emitido pelo município.
Juntos, os dez municípios que lideram o ranking das emissões respondem por 172 milhões de toneladas brutas de gás carbônico equivalente (CO2e). Esse valor é maior do que a emissão de países inteiros, como o Peru ou a Bélgica. Os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa – o SEEG – que gera estimativas anuais das emissões brasileiras desde 2012 e que pela primeira vez foi realizado em nível municipal. Atualmente, o Brasil é o 5º maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.
Nas primeiras posições, aparecem três municípios amazônicos: São Félix do Xingu, Altamira – ambos no Pará – e Porto Velho, em Rondônia. Apenas no quarto lugar aparece São Paulo. As cidades de Pacajá (PA), Colniza (MT), Lábrea (AM), Novo Repartimento (PA), Rio de Janeiro (RJ) e Serra (ES), completam o ranking.
“Até hoje menos de 5% dos municípios brasileiros tinham algum inventário de emissões de gases de efeito estufa. Agora todos terão os dados para uma série de 20 anos e esperamos que isso sirva de estímulo para promover o desenvolvimento local com redução das emissões e enfrentamento das mudanças climáticas”, explica Tasso Azevedo, coordenador-geral do SEEG. “Como os dados são disponibilizados de forma aberta e gratuita, significam também uma enorme economia de recursos públicos, que podem ser focados nas ações para reduzir emissões”, completa.
Durante a apresentação do SEEG Municípios, nesta quinta-feira (4), o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, reforçou que a plataforma de dados é importante para gerar engajamento, pois “qualquer solução de clima vai precisar do engajamento local, dos municípios”. Astrini acrescentou ainda que “o maior problema das emissões no Brasil estão ligados ao desmatamento, essa deve ser a ação prioritária do governo”.
O SEEG calculou as emissões de gases de efeito estufa de todos os 5.570 municípios brasileiros, de 2000 a 2018, e detalha as fontes das emissões por setor: energia, transporte, indústria, agropecuária, tratamento de resíduos e mudanças de uso da terra e florestas.
No caso de São Félix do Xingu, a principal razão por trás da emissão total de 29,7 milhões de toneladas brutas de CO2e em 2018 é o desmatamento, que responde por 25,44 milhões de toneladas, seguida pela agropecuária, com 4,22 milhões de toneladas de CO2e. O município paraense possui o maior número de cabeças de gado do país e a digestão do rebanho bovino é uma das principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa.
Em todo Brasil, o setor da agropecuária foi a maior fonte emissora de gases de efeito estufa em mais da metade dos municípios (65,8%) em 2018.
A emissão per capita, ou seja, o total emitido dividido pelo número de habitantes do município, também é gritante nos campeões de emissão amazônicos. Em São Félix do Xingu, por exemplo, cada morador emite 225 toneladas de CO2e por ano, um número quase 22 vezes maior que a média brasileira e 12 vezes maior que a emissão per capita dos Estados Unidos.
No caso de Colniza, no noroeste do Mato Grosso, sexto maior emissor com 14,3 milhões de toneladas de CO2e e apenas 39.861 habitantes, o município possui uma emissão per capita bruta de 358 toneladas, a maior do Brasil.
Remoções de gases
Do outro lado da moeda, os mesmos municípios amazônicos que lideram as emissões, também são responsáveis pelas maiores remoções de gases de efeito estufa da atmosfera, através das áreas de floresta que ainda existem (parte delas asseguradas por áreas protegidas). É o caso de Altamira, segundo maior emissor e o campeão das remoções, com 22 toneladas de CO2e removidos, e o próprio São Félix do Xingu, com remoções de 10 milhões de toneladas. Em ambos os casos, o principal responsável pela retirada dos gases da atmosfera são as áreas protegidas – unidades de conservação e Terras Indígenas – que existem no território municipal.
Leia também
Após 4 anos sem avanços na agenda climática, Rio prevê lançamento de Plano de Ação
Leia também
Após 4 anos sem avanços na agenda climática, Rio prevê lançamento de Plano de Ação
Em cenários de crise, especialistas opinam que a Prefeitura do Rio precisa resgatar o protagonismo integrando estratégias de governança locais com outros municípios da região metropolitana →
Dez fatos que marcaram o clima em 2020
Eventos extremos, boiada passando e uma ponta de esperança no final de um ano que todos queremos esquecer →
Clima, crimes ambientais e transparência
Há uma crônica falta de sistematização e transparência sobre os procedimentos instaurados, já que as providencias tomadas por órgãos estaduais, Ibama, Ministério Público e Poder Judiciário só são acessíveis de forma fragmentada, muitas vezes por meio de requerimentos, apelando ao direito à informação →