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Doação milionária apoia pesquisa sobre árvores nativas com alto valor econômico

Programa de pesquisa e desenvolvimento de árvores nativas aposta na silvicultura como ferramenta para restauração e conservação da natureza

Duda Menegassi ·
21 de agosto de 2023

Lançado em 2021, o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento de Silvicultura de Espécies Nativas (PP&D-SEN) recebeu neste mês uma doação de 2,5 milhões de dólares da Bezos Earth Fund – o equivalente, no câmbio atual, a mais de 10 milhões de reais. O PP&D-SEN é o primeiro programa nacional voltado para pesquisa com espécies florestais nativas de alto valor econômico e produtivo. A doação milionária será empregada ao longo dos próximos três anos e ajudará projetos focados em espécies nativas da Mata Atlântica e da Amazônia. A expectativa é que a silvicultura possa ser uma ferramenta em prol da restauração e conservação da natureza.

O programa, com duração inicial de 20 anos, foi lançado pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura com o apoio de instituições de pesquisa, empresas, governo, sociedade civil e financiadores. A iniciativa promove inovações e o desenvolvimento tecnológico necessário para o estabelecimento da silvicultura de espécies nativas em escala comparável à dos principais setores agroindustriais brasileiros.

Parte dos recursos será destinada às atividades de pesquisa do Parque Científico Tecnológico do Sul da Bahia (PCTSul), que realiza a coleta de dados e estudos em um campo experimental implantado nas últimas décadas, além da elaboração de mapas de áreas prioritárias para o plantio de espécies nativas, modelos de negócios e propostas de melhoria da gestão e conservação de áreas protegidas. Uma das iniciativas do programa é o desenvolvimento e divulgação de modelos de silvicultura de nativas e restauração produtiva em zonas de amortecimento de unidades de conservação, para diminuir a pressão sobre elas. O treinamento e capacitação de agentes públicos também está previsto.

“O alto valor e a grande demanda nacional e internacional por madeiras nobres permitem que o investimento em reflorestamento gere lucro ao investidor, comunidades e proprietários rurais. Este é um dos melhores exemplos de como o desenvolvimento econômico pode ser alinhado à preservação ambiental”, aponta o colíder da Força-Tarefa Silvicultura de Nativas da Coalizão Brasil e consultor sênior do WRI Brasil, Miguel Calmon.

Atualmente, a silvicultura nacional prioriza espécies como eucalipto, pinus e teca, todas exóticas. Apenas duas nativas, a araucária – plantada em áreas degradadas para o manejo sustentável – e o paricá, figuram com algum destaque na produção de madeira para fins industriais no país. Em 2021, o Brasil faturou 4,6 bilhões de dólares em exportações de madeira, o equivalente a menos de 3% do total comercializado pelo mercado internacional de produtos madeireiros.

O Bezos Earth Fund foi criado por Jeff Bezos, empresário americano e fundador da Amazon, a partir do seu compromisso em apoiar a crise climática e a conservação da natureza com um aporte de 10 bilhões de dólares. 

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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Comentários 4

  1. Valdivino diz:

    Enquanto não mudar as leis o dinheiro não resolve. Quem planta tem o direito de cortar, se fosse assim nossas Araucária não teria dado espaço para o Pinus.


  2. Importante a articulação com instituições de pesquisas, o MST, que propunha o plantio de 100 milhões de árvores nativas, as comunidades tradicionais, os movimentos socioambientais… Uma campanha de integração é necessária. Valeu!


    1. Valdivino diz:

      MST nunca vi eles mostrarem uma plantação nem ao redor da casa cuidam.


  3. Laercio Lico Junior diz:

    Que boa notícia, tomara que esse dinheiro, transformado em pesquisa, possa ser útil ao meio ambiente brasileiro.