Nos 45 minutos do segundo tempo, os países reunidos em Bonn, Alemanha, na Pré-Conferência do Clima, concordaram e aprovaram a agenda que vai ser discutida no final deste ano em Dubai, durante a COP-28. A decisão foi tomada no encerramento do expediente de quarta-feira (14), um dia antes do fim do encontro.
As Pré-COP são eventos com grande peso técnico e político. São nessas reuniões que saem os temas-chave e os rascunhos de acordos que podem ser fechados nas Cúpulas do Clima da Organização das Nações-Unidas.
Para a ONU, apesar dos vários problemas nas negociações, o encontro avançou em questões críticas, ajudando a lançar as bases para as decisões políticas exigidas na 28ª Conferência do Clima, que este ano acontece entre novembro e dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes.
“Depois de quase duas semanas para chegar a um acordo sobre uma agenda, é fácil acreditar que estamos distantes em muitas questões, mas pelo que tenho visto e ouvido, existem pontes que podem ser construídas para concretizar o terreno comum que sabemos que existe.” disse o Secretário Executivo de Mudanças Climáticas da ONU, Simon Stiell, na cerimônia de encerramento do encontro, realizada nesta quinta-feira (15).
O otimismo, no entanto, não foi o sentimento unânime do encontro. Para viabilizar a aprovação da agenda, a União Europeia teve que ceder e autorizar a retirada de um dos itens mais polêmicos da conversa, o chamado Programa de Trabalho em Mitigação.
UE havia inserido o tema para encorajar os países a elevar a ambição de suas metas nacionais de redução de emissões. Países em desenvolvimento, em especial o G77 – grupo das nações menos desenvolvidas e em desenvolvimento – e o bloco da América Latina, não aceitavam que o tema entrasse na agenda sem que a questão do financiamento também estivesse em pauta.
Para o G77 e bloco da América Latina, exigir mais ambição sem oferecer condições financeiras para que tais países pudessem retirar do papel suas metas seria injusto, justificam.
O recuo da União Europeia, por outro lado, foi visto como uma vitória dos países petrolíferos. Retirar o Programa de Trabalho em Mitigação significa que o tema do corte na emissão dos gases estufa também não estará na pauta. Não com o destaque esperado, ao menos.
Segundo análise do ClimaInfo, os problemas nas negociações de Bonn antecipam dificuldades potenciais para a COP-28. “A novela do MWP [Plano de Mitigação, na sigla em inglês] é um exemplo de desafio que certamente confrontará os negociadores na abertura da COP 28”, disse a organização.
De acordo com a ONU, 647 delegados compareceram ao encontro climático em Bonn.
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