Um estudo do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) aponta que as florestas tropicais, responsáveis por dois terços da biodiversidade mundial, correm o risco de terem suas espécies de plantas reduzidas e extintas por causa do aumento da temperatura e da ausência de chuvas. Intitulado de Esecaflor (Seca da Floresta), o experimento está sendo realizado ao longo de duas décadas na Floresta Nacional de Caxiuanã, no Pará. O seu principal objetivo é entender como o aumento de temperatura causado por fenômenos como o El-Niño – caracterizado por mudanças nas temperaturas das águas do Oceano Pacífico – e mudanças climáticas podem afetar a floresta.
Originado no Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), o Eseclafor se concentra em duas faixas da floresta, de um hectare cada (equivalente a um campo de futebol). Em uma delas, os especialistas instalaram 6 mil painéis de plásticos transparentes a uma altura média que fica entre 1,5 e 3,5 metros acima da superfície. Essas telas ajudam a simular as altas temperaturas e condições semelhantes às projetadas para a região amazônica por estudos climáticos, pois impedem que a água penetre o solo.
Quando comparada a outra faixa da floresta, que estava sem os painéis, especialistas observaram que a área coberta com plástico apresentou uma taxa duas vezes maior de mortalidade de árvores. Houve redução de espécies de árvores, arbustos, epífitas e palmeiras.
“Há também uma nítida modificação da composição de espécies, sendo a parcela experimental representada por indivíduos mais tolerantes à redução da umidade do solo. A única forma de vida beneficiada com a redução da umidade do solo na parcela experimental foram os cipós, que aumentaram em número de espécies, indivíduos e biomassa”, conta Leandro Valle Ferreira, ecólogo e coordenador do projeto.
A Amazônia foi o local e o principal foco do experimento. Leandro Valle Ferreira revela preocupação com a floresta sul-americana. “A Amazônia se tornará mais seca e pobre em espécies, confirmando as previsões pessimistas dos cientistas”, afirma.
De acordo com o pesquisador, os impactos sobre a Amazônia podem se estender a outros biomas. “Reduzindo a quantidade de chuvas na região amazônica, outros biomas ficarão mais secos também. Eles são interligados e têm uma dinâmica climatológica entre eles. Portanto, qualquer alteração vai consequentemente prejudicar os outros biomas, como o próprio Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica”, explica.
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