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Fumaça de queimadas está longe do foco das campanhas em Manaus

Com a cidade coberta pela fumaça das queimadas de propriedades rurais do sul do estado, má qualidade do ar é risco à saúde; apenas 2 de 7 candidatos à prefeitura prometem ações

Gabriel Tussini ·
28 de agosto de 2024

Enquanto Manaus sofre os efeitos da fumaça tóxica que cobre a cidade desde domingo (25), uma emergência ambiental e de saúde, as campanhas dos candidatos à prefeitura da capital amazonense têm deixado o assunto de lado. Praticamente ignorado nos debates, apenas dois dos sete candidatos prometem ações em relação à fumaça ou às queimadas em seus planos de governo: Amom Mandel (Cidadania), de forma mais detalhada, e Roberto Cidade (UNIÃO), em rápida citação.

Durante a manhã desta quarta-feira (28), a cidade amanheceu, mais uma vez, coberta de fumaça. Como mostrou o Amazonas Atual, o excesso de materiais particulados no ar deixou a cidade com “aspecto noturno”. Segundo o Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (SELVA), plataforma que monitora as condições climáticas dos estados da Amazônia Legal, o ar de toda a zona urbana de Manaus apresenta qualidade “muito ruim” nesta tarde.

Apesar do cenário, nos dois debates realizados entre os candidatos à prefeitura – que não contaram com a presença do atual prefeito e candidato à reeleição, David Almeida (AVANTE) –, esse não pareceu ser um tema prioritário. No primeiro debate, realizado pela Band Amazonas, no último dia 8, o assunto sequer foi mencionado. Já no mais recente, realizado pela TV Norte Amazonas nesta segunda, dois candidatos mencionaram o problema, já em suas considerações finais. 

Primeiro, Amom Mandel alegou ter “o único plano de governo que tem, aqui, a citação à fumaça tóxica que você está respirando” – o que não é verdade, embora seja o plano que mais aborda o problema.

Em seguida, Gilberto Vasconcelos (PSTU) culpou o agronegócio e os bombardeios israelenses na Faixa de Gaza pelo problema – apenas o primeiro ponto é verdadeiro, já que queimadas em propriedades rurais no sul do estado estão produzindo a fumaça que chega até Manaus. “Os grandes projetos do agronegócio do Mato Grosso, de outras regiões do país, que estão queimando, estão jogando fumaça pra cá. Então isso tudo precisa ser mudado”, afirmou o candidato.

Vasconcelos cita as queimadas em seu plano – “a seca dos rios e as queimadas são apenas o sintoma da devastação causada pela expansão capitalista; por um modelo de sociedade que não se sustenta mais”, diz o documento –, mas não traz propostas que abordem diretamente o problema. 

Mandel, por sua vez, traz mais detalhes. Ele promete criar um Plano de Emergência para a Qualidade do Ar, com “procedimentos claros e protocolos de resposta”, integrar sistemas de monitoramento, comunicar emergências à população de forma antecipada e “capacitar escolas, órgãos públicos, empresas e a comunidade em geral para se prepararem e se protegerem da exposição à fumaça tóxica e outros poluentes”.

Já Roberto Cidade (UNIÃO) protocolou um plano composto por tópicos curtos. Em um deles, promete “criar plano municipal de contingência voltado para a atuação em eventos climáticos extremos, como estiagem e cheia dos rios”. E que “o plano também vai contemplar a prevenção e o combate às queimadas, além de ações educativas para o descarte correto de resíduos”, narra o documento, sem maiores informações.

Já o atual prefeito David Almeida cita, entre suas realizações no mandato, exatamente a criação do atual Plano de Contingência da cidade – que, porém, não traz nenhuma ação relacionada à fumaça, apenas a incêndios urbanos, como em residências. O candidato não cita, em seu plano, nenhuma ação já realizada ou promessa sobre o enfrentamento à emergência causada pelas queimadas.

Da mesma forma, Capitão Alberto Neto (PL), Wilker Barreto (Mobiliza) e Marcelo Ramos (PT) também não mencionam a questão em seus planos de governo. Ramos ainda promete, porém, apresentar um documento mais detalhado e afirma que o plano atualmente disponível é “apenas um marco inicial de estruturação, com reflexões e indicativos que formam a base de um plano de governo a consolidar, e que segue em debate”.

As queimadas obrigaram a edição de um decreto estadual de emergência ambiental, assinado pelo governador Wilson Lima (UNIÃO) no início de julho. São 22 municípios em situação de emergência, todos nas regiões Sul e Metropolitana de Manaus, incluindo a capital, todos “sob o impacto negativo do desmatamento ilegal e queimadas não autorizadas e demais crimes correlatos”, segundo o texto do decreto. Em março, mostramos que o meio ambiente é um tema importante para 90% dos eleitores de Manaus.

  • Gabriel Tussini

    Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), redator em ((o))eco e interessado em meio ambiente, política e no que não está nos holofotes ao redor do mundo.

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