Cali (Colômbia) – O Brasil e outros 11 países, como Noruega, Alemanha, Colômbia, México, Congo e Indonésia, estão mobilizados na 16a conferência das partes (COP16) da Convenção da Diversidade Biológica das Nações Unidas para emplacar um fundo global de investimentos para restaurar e manter de pé florestas tropicais.
A ideia é que países ricos e instituições financeiras apliquem US$ 125 bilhões, hoje pouco mais de R$ 700 bilhões. A previsão de captação é metade da pretendida quando a proposta foi anunciada pelo Brasil na COP28 da convenção do clima, em Dubai (Emirados Árabes), no fim de 2023.
“É um começo. Há uma lacuna gigantesca de financiamento”, disse Carlos Rittl, diretor de Políticas Públicas, Florestas e Mudanças Climáticas da ong WCS, sigla em Inglês da Sociedade de Conservação da Vida Selvagem.
Parte dos lucros do fundo será usada na conservação em 71 países que detêm mais de 1 bilhão de ha de florestas, uma área maior que a da China. O retorno inicial estimado dos investimentos é de R$ 23 anuais por hectare, para países que comprovarem cortes no desmate e degradação florestal.
“O fundo é inovador porque é baseado em investimentos e não doações, o que a grande maioria dos instrumentos de conservação hoje têm”, avaliou Rittl.
Diretor do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Garo Batmanian afirmou que o fundo associa de forma inédita investimentos de longo prazo para enfrentar simultaneamente as crises do clima e da perda de biodiversidade.
“É um pagamento pelos serviços ambientais das florestas”, disse. “Conter o desmatamento precisa de investimentos permanentes”, ressaltou. A medida não poderia ser mais urgente.
A destruição das florestas tropicais acelera a perda de biodiversidade e bagunça ainda mais o coreto climático, aumentando rapidamente a temperatura média global em mais 1o centígrado, alertou Carlos Nobre, cientista climático do do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“Seguindo a destruição das florestas, a ciência mostra que teremos de uma a duas pandemias por década”, alertou. Ele se referiu a um artigo publicado em 2020, na revista Science. “Proteger florestas não é só clima e biodiversidade, são vidas humanas também”, lembrou.
A destruição florestal aproxima pessoas de animais, insetos e outros transmissores de doenças. Entre 2020 e 2021, a pandemia de Covid-19 matou pelo menos 700 mil pessoas no Brasil. No mundo, foram 15 milhões as mortes estimadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O governo brasileiro espera que o TFFF, sigla em Inglês do Fundo de Financiamento para Florestas Tropicais, esteja operando antes da COP30 da convenção do clima, que acontecerá em 2025 em Belém, no Pará.
Apesar de centrado em florestas, um padrão que deixa de fora grandes parcelas do Cerrado e do Pantanal e de outros biomas brasileiros, os recursos poderão chegar a essas regiões com ações nacionais do governo, como de combate e prevenção de incêndios e gestão ambiental de terras indígenas.
“Os recursos do fundo não virão amarrados a um único bioma, como do Fundo Amazônia”, destacou Batmanian (SFB). Criado em 2008, esse fundo capta e aplica dinheiro na conservação da floresta equatorial que sobre quase 60% do Brasil.
Nesse sentido, a diretora de Relações Institucionais do Instituto Ekos, Maria Cecília Wey de Brito, avalia que isso será indispensável para aumentar a proteção de outros ambientes naturais. “A biodiversidade não está abrigada só em florestas”, destacou.
Sobre isso, Carlos Rittl (WCS) explicou que o TFFF será testado na conservação das florestas tropicais e, se for bem sucedido, poderá ser expandido para outros ecossistemas. “Para avaliar o fundo, a área já é suficientemente grande”, disse.
O repórter viajou a convite do IPAM.
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