A COP 30, que será realizada em novembro de 2025 em Belém, vai muito além de um encontro diplomático: é um fórum histórico onde se decide o futuro do planeta. O evento deve receber 50 mil participantes de 198 países, incluindo líderes globais, cientistas e movimentos sociais. Entretanto, cabe destacar o protagonismo que estará nas mãos das organizações da sociedade civil, especialmente as ONGs. Longe de serem meras observadoras, elas chegam como portadoras de conhecimento técnico e agentes de mudança, capazes de transformar ciência em políticas concretas e fortalecer a agenda climática global de maneira profunda e diversa.
A relevância da participação dessas organizações não pode ser subestimada. Elas representam a sociedade civil de forma autêntica, dando voz a comunidades locais, grupos vulneráveis e causas que poderiam ser silenciadas. Sua presença garante que o debate sobre o clima não fique restrito a governos e corporações, mas se amplie para incluir a experiência de quem vive e sente os impactos das mudanças climáticas na ponta.
Além disso, sua atuação vai muito além da pressão política: elas trazem exemplos práticos do campo, integram agendas de clima, biodiversidade e conservação de espécies, e asseguram ações concretas, fortalecendo a transparência e a efetividade das decisões globais. Para assegurar que essas vozes sejam efetivamente ouvidas, ONGs nacionais e internacionais estarão credenciadas pelo Portal Brasil Participativo e pelo Secretariado da UNFCCC. Essas organizações atuam pressionando governos e empresas a manter a agenda climática ativa e testando abordagens que podem ser replicadas em larga escala.
O pano de fundo da conferência é ambíguo. O Brasil conseguiu reduzir suas emissões em 17% em 2024, chegando a 2,145 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente, segundo o SEEG do Observatório do Clima — a segunda maior queda em 16 anos, impulsionada principalmente pelo controle do desmatamento. O setor de uso da terra e florestas foi responsável por essa redução expressiva, emitindo 906 MtCO₂e em 2024 contra 1,342 GtCO₂e no ano anterior. Ainda assim, o desmatamento segue como principal fonte de poluição climática: de acordo com o Prodes/Inpe, a taxa consolidada de 2024 foi de 6.288 km², uma queda de 30,6% em relação a 2023. No período de agosto de 2024 a julho de 2025, os alertas do Deter registraram 4.495 km², o segundo menor nível histórico do sistema. Esses números mostram que a trajetória é positiva, mas instável, o que reforça a necessidade de monitoramento independente e pressão da sociedade civil.
Um dos focos do evento será a relação entre a biodiversidade e o clima. Segundo o Painel Científico para a Amazônia (PCA), a floresta concentra 2.400 espécies de peixes, 1.300 de aves, 425 de mamíferos, 371 de répteis e cerca de 50 mil espécies de plantas vasculares. Essa riqueza não é apenas um patrimônio ambiental, mas também uma barreira natural contra o agravamento da crise climática. Áreas mais biodiversas têm maior capacidade de armazenar carbono, reforçando o papel da Amazônia como sumidouro essencial para o equilíbrio do planeta.
O IPCC, em seu sexto relatório de avaliação (AR6), reforça que a perda de grandes árvores tropicais compromete diretamente a capacidade da floresta de absorver carbono. O MapBiomas Solo mostra que a Amazônia detém o maior estoque de carbono orgânico no solo brasileiro, enquanto estudos do Instituto Socioambiental (ISA) revelam que áreas protegidas absorvem mais carbono que áreas abertas à exploração. A ciência deixa claro que proteger a biodiversidade é proteger o clima, e as ONGs são cruciais para traduzir esses dados em políticas e ações efetivas.
Ao integrar agendas climáticas, de biodiversidade e de conservação de espécies, o terceiro setor transforma soluções isoladas em benefícios mútuos, ampliando a eficácia das políticas públicas. Em um contexto em que parte do discurso político celebra, com razão, reduções no desmatamento, essas organizações lembram que a resiliência da floresta não pode depender apenas de ciclos econômicos ou políticas passageiras.
A COP 30 será, portanto, um teste não apenas para governos, mas para a capacidade da sociedade civil de transformar ciência em ação e integrar a biodiversidade à política climática. Em Belém, o futuro do clima global passará necessariamente pela força das vozes que defendem a diversidade de espécies do planeta de forma integrada a vida das pessoas, com conhecimento técnico, mobilização social e compromisso com soluções duradouras.
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