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Hoje é Dia do Pampa

17 de dezembro é o Dia Nacional do Pampa, um bioma rico e associado a identidade do Rio Grande Sul, embora pouco conhecido no restante do país

Eduardo Pegurier ·
17 de dezembro de 2016 · 8 anos atrás
A imagem clássica do Pampa, aqui próximo a Quaraí (RS). Foto: Fabio Olmos
A imagem clássica do Pampa, próximo a Quaraí (RS). Foto: Fabio Olmos

Desconhecidos, ignorados e confundidos com áreas já alteradas e de pouco valor ecológico, os Campos Sulinos formam o bioma Pampa, mais rico e importante do que sugere a esparsa consciência nacional. E o Dia Nacional do Pampa é o 17 de dezembro. Para comemorá-lo, adaptamos um trecho do livro Espécies e Ecossistemas, do nosso colunista Fabio Olmos.

Os campos naturais ocupam uma área superior a 13,5 milhões de hectares no Brasil, mas é apenas nos Campos Sulinos que elas são dominantes. Estes fazem parte do bioma Pampa, que inclui as formações campestres do centro e leste da Argentina e Uruguai, e do sul do Brasil.

Segundo o IBGE, o Pampa brasileiro ocupa uma área limitada ao Rio Grande do Sul, mas critérios biogeográficos permitem definir os Campos Sulinos como uma área muito mais extensa, com grandes manchas de formações campestres isoladas entre si por corredores florestais associados a grandes rios. Estas incluem os Campos Gerais que ocorriam do extremo sudeste de São Paulo, através do segundo planalto do Paraná até o norte de Santa Catarina. A estes se ligam os Campos de Lages e os Campos de Cima da Serra do sudeste de Santa Catarina e nordeste do Rio Grande do Sul. Os Campos de Cima da Serra e seus semelhantes em Santa Catarina e Paraná são pontilhados por capões de araucárias Araucaria angustifolia, o que lhes dá fisionomia característica.

Os Campos Sulinos são os remanescentes de um longo período climático muito diferente do atual e da mudança climática associada a uma lenta expansão das florestas ao longo dos últimos poucos milhares de anos. Esta pode ter sido interrompida por episódios como a Pequena Idade do Gelo (c. 1300-1850 DC), quando icebergs foram registrados fora do rio de La Plata e nevascas no Espinhaço mineiro. Esta substituição dos campos por florestas é um processo ainda em andamento, mediado por outros fatores além do climático e edáfico. Muitas áreas de campos estão associadas a solos rasos, bem drenados, ou a várzeas sujeitas a encharcamento prolongado, o que inibe o crescimento de árvores.

 

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A savana do Parque Estadual do Espinilho em Barra do Quaraí (RS). Foto: Fabio Olmos O Cardeal-amarelo, espécie associada ao Espinilho, está à beira da extinção devido ao colecionismo criminoso que alimenta o comércio de aves de gaiola. Foto: Fabio Olmos O Graxaim é uma das espécies compartilhadas pelo Pampa e pelos Campos de Cima da Serra. Foto: Fabio Olmos
Cisnes-de-pescoço-preto são um dos ícones de Banhados como o Taim. Foto: Fabio Olmos A pecuária de baixo impacto cria um mosaico de campos altos e baixos, e conserva banhados nas coxilhas. Foto: Fabio Olmos Foto: Fabio Olmos

 

Os Campos Sulinos abrigaram até recentemente (c. 8500 anos atrás no Rio Grande do Sul, talvez até menos) uma fauna de grandes herbívoros pastadores que incluía cavalos, lhamas, toxodons e preguiças gigantes. Como nas savanas africanas atuais, esta megafauna criava perturbações que mantinham o mosaico de habitats que vai de pastos ralos e baixos a capinzais altos e densos, inibia o crescimento de árvores e removia biomassa impedindo o acúmulo de matéria seca e inflamável.

A extinção da megafauna está associada, no registro paleoambiental dos Campos Sulinos, a um aumento significativo na frequência e intensidade dos incêndios, fenômeno também detectado em outras partes do mundo após extinções similares. Este aumento está associado tanto ao acúmulo de biomassa vegetal seca e inflamável (antes consumida pela megafauna) como à intensificação das atividades humanas. O uso do fogo por povos caçadores-coletores para “limpar áreas”, facilitar a caça e mesmo como arma de guerra é uma constante em todos os continentes e este fator foi, após a ocupação humana, determinante em manter áreas de campo mesmo sob climas favoráveis às florestas.

Assim, a existência dos campos até os dias de hoje, quando as condições climáticas são favoráveis às florestas, é resultado de uma combinação de fatores. Primeiro, o atual regime climático é relativamente recente e as florestas levam algum tempo para se estabelecer. Segundo, o uso do fogo, primeiro por populações indígenas e depois por pecuaristas, retarda a expansão das florestas, enquanto favorece a vegetação campestre. O mesmo processo provavelmente manteve as áreas de campos mais ao norte, no Paraná e em São Paulo, onde campos pontilhados por araucárias ocorriam mesmo na área da atual metrópole até pelo menos o início do século XIX.

Cerca de 480 espécies de aves ocorrem no Pampa brasileiro, das quais 109 são essencialmente campestres, 126 aquáticas e 126 associadas às formações florestais que cortam os campos. As estimativas indicam pelo menos 27 táxons de aves endêmicas para o conjunto dos Pampas e Campos do Uruguai e Brasil.

Baixe aqui o pdf para ler uma versão do capítulo “Os campos e banhados sulinos”, do livro Espécies e Ecossistemas, de Fabio Olmos

 

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  • Eduardo Pegurier

    Mestre em Economia, é professor da PUC-Rio e conselheiro de ((o))eco. Faz fé que podemos ser prósperos, justos e proteger a biodiversidade.

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Comentários 1

  1. Renato diz:

    O Pampa é o bioma brasileiro com menor índice de proteção ambiental e e cobertura de e cobertura original. A instituição de um dia alusivo é importante, mas este dia não é comemorativo. Faz-se necessária a instituição de áreas de proteção ambiental e a fiscalização de das reservas legais nas propriedades rurais.