As madeireiras Ebata e Golf acabam de perder a certificação socioambiental FSC (Forest Stewardship Council – Conselho de Manejo Florestal, em português), que garante que o produto é socioambientalmente sustentável, após a Justiça Federal atender um pedido do Ministério Público Federal (MPF) no Pará, que trava na justiça uma disputa contra as duas madeireiras por propaganda enganosa.
Segundo o MPF, as duas madeireiras retiram madeira de uma floresta no oeste do estado ocupada há décadas por comunidades quilombolas e ribeirinhos. O certificado foi concedido pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), que se recusava a rever a decisão.
As empresas extraem a madeira da Floresta Nacional Saracá-Taquera, que ocupa uma área de 441 mil hectares, leiloada para a exploração madeireira em 2009. Na época, o Ministério Público entrou com ação na Justiça contra a concessão, e perdeu.
O principal argumento dos procuradores contra a concessão era a presença de populações tradicionais no interior da área – entre elas, quilombolas que ainda buscam o reconhecimento e ribeirinhos.
Embora o local da exploração tenha sido concedido, o Ministério Público Federal argumenta que a proximidade afeta o modo de vida dos ribeirinhos e quilombolas, logo, o empreendimento não deveria manter um selo que garante para os consumidores que aquele produto é socioambientalmente sustentável.
Impactos
Entre os impactos estão obras que prejudicaram a navegabilidade de um rio usado para caça e pesca e poluição da água que abastecia a comunidade. Há também a denúncia de que as madeireiras utilizam áreas de assentamento de quase 1,5 mil famílias atendidas pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Ainda de acordo com o MPF, “falta informações acessíveis para as comunidades sobre os projetos, além da retirada, em escala industrial, de espécies de árvores que garantiam a subsistência das comunidades locais”.
Na decisão, o desembargador federal, Souza Prudente, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) deixa claro que os argumentos do MPF são sólidos. “Não se pode olvidar [esquecer] que as alegações deduzidas pelo Ministério Público Federal (…) encontram-se calcadas em robusto laudo técnico, em que restou demonstrada a ocorrência das irregularidades apontadas na inicial, não se podendo admitir a desconstrução de tais argumentos amparando-se em mera presunção de inexistência de lavratura de auto de infração pelo órgão competente, até mesmo porque tal fato (…) pode caracterizar-se por eventual omissão do aludido órgão, no exercício da sua função fiscalizadora”, enfatiza o desembargador.
*Com informações da assessoria de comunicação do Ministério Público no Pará.
Leia Também
Justiça ignora quilombolas e mantém certificação de extração de madeira
Ambientalista que denunciava madeireiras ilegais é assassinado no Maranhão
Ambientalista que denunciava madeireiras ilegais é assassinado no Maranhão
InfoAmazonia: Como construímos um projeto open source para monitorar a qualidade d´água
Leia também
InfoAmazonia: Como construímos um projeto open source para monitorar a qualidade d´água
Um relato sobre a execução do Rede InfoAmazonia, uma rede de sensores para monitorar a qualidade da água de comunidades na Amazônia →
Ambientalista que denunciava madeireiras ilegais é assassinado no Maranhão
Raimundo Rodrigues era conselheiro da Reserva Biológica do Gurupi desde 2012 e sofreu uma emboscada quando estava chegando em casa. →
A divulgação é o remédio
Na década de 1940, a farmacêutica Roche editou as Coleções Artísticas Roche, 210 prospectos com gravuras e textos de divulgação científica que acompanhavam os informes publicitários da marca →
Propaganda enganosa é população tradicional extrativista sustentável.