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Mata Atlântica é o bioma com maior número de espécies ameaçadas do país

Levantamento do IBGE mostra que bioma possui quase 3 mil espécies sob risco de desaparecer da natureza. Cerrado fica com o 2º lugar, com mais de 1 mil espécies ameaçadas

Duda Menegassi ·
26 de maio de 2023 · 1 anos atrás

A manchete não é nenhuma surpresa. A Mata Atlântica é o bioma mais desmatado do país, portanto faz sentido ser também o com maior número de espécies ameaçadas de extinção. Ao todo, são 2.845 bichos e plantas sob risco de desaparecer da floresta atlântica – mais da metade do total ameaçado – e oito que já foram extintos. O número faz parte das estatísticas sobre as espécies ameaçadas nos biomas brasileiros produzidas pelo IBGE. O levantamento mostra que o Cerrado está logo atrás, com 1.199 espécies ameaçadas; seguido pela Amazônia com 503; Caatinga com 481; Pampa com 229 e o Pantanal com apenas 52 espécies ameaçadas.

As informações são da atualização da pesquisa “Contas de ecossistemas: espécies ameaçadas de extinção no Brasil”, divulgada pela primeira vez em 2020, com dados de 2014. O novo levantamento tem como base a revisão da Lista de Espécies Ameaçadas divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente no ano passado e foi publicado pelo IBGE nesta quarta-feira (24).

Atualmente, são reconhecidas no Brasil um total de 50.313 espécies de plantas e 125.251 de animais. Para o levantamento, foram avaliadas 7.517 espécies de plantas (15%) e 13.939 (11%) de fauna, um escopo maior do que o avaliado em 2014 nos dois grupos.

Em números absolutos, todos os biomas, com exceção do Pampa (onde reduziu em 5), apresentaram aumento na quantidade de espécies ameaçadas. O maior salto foi na Amazônia, onde o número foi de 311 em 2014, para 503 em 2022. O Cerrado não ficou distante, com um acréscimo de 162 espécies na lista de ameaçadas entre 2014 e 2022. 

O coordenador da pesquisa, Leonardo Bergamini, ressalta que, embora a proporção de espécies avaliadas ainda seja pequena em relação ao total de espécies reconhecidas, o esforço constante das instituições envolvidas tem resultado em avanços importantes para o conhecimento da biodiversidade brasileira, que podem nortear políticas de proteção adequadas ao meio ambiente. “Mas também ainda há muito o que avançar. Conforme o conhecimento vai se expandindo, é de se esperar que entrem na amostra mais espécies não-ameaçadas do que ameaçadas, já que as com potencialmente maior risco à extinção são avaliadas prioritariamente”, explica o pesquisador. “Por isso, não podemos afirmar que o nível de ameaça diminuiu”, afirma.

Extinções na Mata Atlântica

Além de ser o bioma com maior número de espécies ameaçadas, a Mata Atlântica é também o com maior quantidade de espécies já consideradas extintas. A atualização da lista trouxe a inclusão da perereca-gladiadora-de-sino (Boana cymbalum). Restrita à Mata Atlântica, a espécie era conhecida de apenas duas localidades no estado de São Paulo, uma na Serra de Paranapiacaba, em Santo André, e outra na capital paulista, na Vila Nova Manchester, num local que foi transformado em estacionamento. A perereca não é vista desde 1962, apesar de dezenas de expedições de pesquisadores terem tentado reencontrá-la.

Ao todo, nove espécies de animais já desapareceram do país: as aves Maçarico-esquimó (Numenius borealis), Gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti), Limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi), Peito-vermelho-grande (Sturnella defilippii), Arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus), e Caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum); assim como a perereca-verde-de-fímbria (Phrynomedusa fimbriata) e o rato-de-Noronha (Noronhomys vespuccii). 

A lista inclui ainda o mutum-de-alagoas (Pauxi mitu), ave considerada extinta na natureza, mas que sobrevive em cativeiro e contam com projetos de conservação e manejo para voltarem pra natureza. A espécie é endêmica (ou seja, exclusiva) da Mata Atlântica nordestina.

Leia mais: Mutuns-de-alagoas se reproduzem de forma natural pela primeira vez em 40 anos

A flora terrestre da Mata Atlântica concentra ainda 43% das espécies ameaçadas, na liderança da lista “bioma-ambiente” com mais risco. Já a fauna terrestre do Sistema Costeiro-Marinho aparece em segundo lugar, com 38%; e a flora terrestre do Cerrado logo atrás, com 37%. 

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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