O Brasil estocava 37 gigatoneladas (Gt) de carbono orgânico no solo (COS) em 2021. Entre os biomas, a Amazônia concentrou mais da metade do COS. Entretanto, Mata Atlântica, seguida do Pampa, apresentou a maior densidade de COS por hectare (ha). Isto é o que revela levantamento inédito publicado pelo MapBiomas nesta quarta-feira (21).
Segundo o estudo, os solos com cobertura de vegetação nativa respondiam por quase dois terços do COS do País: 23,4 Gt. Já os solos de áreas que foram convertidas para uso antrópico – alterados pela ação humana – respondiam, naquele ano, por apenas 3,7 Gt COS. Para o MapBiomas, os números enfatizam a importância da preservação da vegetação nativa dos biomas brasileiros.
“Cada vez mais o nosso solo está sendo utilizado para a agropecuária e esse estoque de carbono que antes, lá em 1985, estava coberto por uma floresta, ao longo do tempo está sendo convertido e ocupado por agropecuária”, disse Taciara Zborowski Horst durante a apresentação do levantamento, que tem o objetivo de aprimorar o entendimento da dinâmica de captura e emissão de carbono no solo.
Conforme o MapBiomas, entre 1985 e 2021, a quantidade de COS estocado no solo coberto por floresta reduziu de 26,8 Gt para 23,6 Gt no Brasil, uma perda de 3,2 Gt – o que equivale a todo o estoque da Caatinga em 2021 (2,6 Gt).
Para Horst, que é professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e uma das coordenadoras do mapeamento, os dados sugerem que, ao longo do tempo, há uma tendência de aumento do estoque de COS em áreas com formação florestal, o que não ocorre em áreas de agricultura e pastagens. “As coberturas naturais tendem a aumentar o estoque ao longo do tempo nessa série, e o uso antrópico tende a diminuir o estoque de carbono por unidade de área”, disse.
Com 19,8 Gt, a Amazônia apresentou a maior concentração absoluta de COS, indica o levantamento. Na sequência, aparecem o Cerrado (8,1 Gt COS) e Mata Atlântica (5,5 Gt COS). Quanto à densidade, Mata Atlântica e Pampa concentraram os maiores estoques médios de COS por ha, com, respectivamente, 50 t/ha e 49 t/ha, enquanto a Amazônia figura em terceiro lugar, com 48 t/ha. No Brasil, o estoque médio é de 45 t/ha.
“A Amazônia segue sendo nosso maior reservatório de carbono, em termos totais, porque é um bioma muito grande. Mas a maior concentração [por hectare] é na Mata Atlântica, seguido do Pampa e, aí sim, Amazônia”, explicou a professora da UTFPR.
Um dos grandes reservatórios de carbono do planeta, o solo, quando saudável, pode colaborar para mitigar mudanças no clima ao estocar e não injetar CO2 na atmosfera – na forma de gás carbônico e metano. Entretanto, o contrário disso acontece quando ele é degradado.
O mapeamento publicado nesta quarta pode contribuir para o monitoramento do impacto da implementação das práticas de agricultura de baixo carbono no Brasil, aponta o MapBiomas. “Ainda é uma versão beta, sujeita a muitos aprimoramentos, mas é um avanço importante no mapeamento digital de solos e oferece subsídios valiosos para a conservação e uso sustentável do solo no Brasil”, afirmou Horst.
Metodologia
Segundo o MapBiomas, os números apresentados pelo levantamento foram obtidos a partir da análise da dinâmica do estoque de COS de 1985 a 2021 em diferentes coberturas e usos da terra, com resolução espacial de 30 metros e mostrando os estoques de COS nos primeiros 30 cm, em toneladas por hectare (t/ha).
Para o mapeamento, foram processados dados de 9,6 mil amostras de solo coletadas no campo por iniciativas de órgãos públicos desde a década de 1950.
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