O Ministério Público Federal pediu, mais uma vez, para que a Justiça do Acre suspenda o edital e multe o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) por contratar empresa para iniciar os estudos do projeto de extensão da estrada 364, que vai ligar o Acre ao Peru. O edital foi lançado sem o governo ter realizado antes os estudos de viabilidade técnica, econômica ou ambiental e, acima de tudo, sem ter consultado as populações tradicionais impactadas.
A estrada atravessará o Parque Nacional da Serra do Divisor e afetará dezenas de terras indígenas, tanto no lado brasileiro quanto no lado peruano. Em dezembro, a Justiça do Acre concedeu uma liminar para suspender o edital. A decisão foi derrubada logo em seguida pelo desembargador Francisco de Assis Betti, vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
Em novo parecer, de 67 páginas, o MPF pede a imediata suspensão do edital (No 130/2021), a publicização da Ação Civil Pública na página do Dnit e a multa de 6 milhões a ser paga pela União e o Dnit, quantia que será revertida em projetos de recuperação ambiental no Parque Nacional da Serra do Divisor e em projetos educativos e informativos sobre o meio ambiente e a cultura indígena no Estado do Acre.
O MPF também pedem que a União, o Dnit e o Ibama “se abstenham de licitar e licenciar eventuais obras de construção da BR-364 na ligação entre Cruzeiro de Sul e Pucallpa (Peru), enquanto não forem realizados os Estudos de Viabilidade Técnica e Ambiental (EVTEA) e não for realizada consulta livre, prévia e informada aos povos indígenas”.
“A União argumenta que, nesse momento, a consulta não é necessária, porque se trata tão somente de contratação de empresa para realizar os projetos básico e executivo (ID 861005579).
Discorre longamente, em vários trechos negritos e sublinhados, que o Comitê de Peritos da OIT esclareceu que consulta não é consentimento; na sequência, reconhece que nem os autores da inicial sequer afirmaram isso (item 90). Registra que não há direito de veto pelos indígenas, para não “atravancar o desenvolvimento e o progresso nacional” (item 96).
A ausência da consulta neste momento, quando já haverá a destinação de vultosos recursos para elaboração de projetos básico e executivo de engenharia, implica no fato de que as futuras consultas servirão tão somente para cumprir, de forma protocolar, a obrigação assumida pelo país nos tratados internacionais”, argumenta o procurador Lucas Costa Almeida Dias, que assina o novo parecer. O documento foi direcionado à juíza federal Franscielle Martins Gomes Medeiros, da 1ª Vara de Rio Branco.
ACP
A Ação Civil Pública foi ajuizada pela Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj), a Comissão Pró Índio do Acre (CPI-Acre), a SOS Amazônia, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).
Leia também
Movimentos sociais barram ofensiva do governo em região intocada da Amazônia
Justiça acata Ação Civil Pública que denuncia violações a direitos e atropelos a procedimentos primários para licenciamento de rodovia na fronteira Brasil-Peru →
ICMBio dá sinal verde para estrada que corta Parque Nacional da Serra do Divisor
Em ofício ao qual ((o))eco teve acesso, diretor do ICMBio abre caminho para avanço no licenciamento ambiental do trecho da BR-364 que cortará ao meio a floresta protegida →
Projeto de rodovia deixa em risco outra área intocada da Amazônia
No Acre, propostas para conectar ‘municípios isolados’ a estradas principais tendem a avançar desmatamento já em alta para regiões intactas do bioma; após o Alto Juruá, o Alto Purus é o alvo de políticos →
Parabéns a MPF !
https://desentupidoremjundiai.com.br/desentupidora-de-esgoto-em-jundiai/