Eles possuem características diferentes, com vetores, velocidade de propagação e métodos de combate distintos, mas os incêndios sem precedentes que consomem a Califórnia há uma semana e as queimadas históricas registradas na Amazônia no último ano possuem um denominador comum: as mudanças climáticas. O alerta foi feito por uma das maiores referências sobre fogo em florestas tropicais no mundo, a pesquisadora das Universidades de Oxford e Lancaster, Erika Berenguer.
“Tem um paralelo importantíssimo entre os atuais incêndios em Los Angeles e os incêndios no Brasil em 2024 – a paisagem está extremamente inflamável por conta das mudanças climáticas. E isso só vai se acentuar”, disse ela, em uma rede social.
A ((o))eco, Erika Berenger explicou que 2024, assim como no Brasil, foi um ano de grande estiagem no estado da Califórnia. A seca na região de Los Angeles se estende há oito meses. A última vez que choveu na cidade foi no dia 5 de maio de 2024.
Isso significa que toda a vegetação em volta da cidade dos famosos está muito seca. Os chamados ventos de Santa Ana, que vêm do nordeste do país e podem apresentar rajadas entre 80 e 100 km por hora, têm ajudado a espalhar as chamas.
“Quando está muito seco, qualquer coisa, literalmente qualquer faísca, dá início aos incêndios”, explica.
Até esta quarta-feira (15), o Departamento de Florestas e Proteção Contra Incêndios da Califórnia (CAL FIRE, na sigla em inglês) havia contabilizado 40.660 acres de áreas queimadas, ou 16 mil hectares, o equivalente à metade da cidade de Belo Horizonte (MG). Mais de 12 mil estruturas foram destruídas e o número de mortes chegava a 24.
O Brasil também registrou diferentes recordes, ligados à estiagem e ao fogo, em 2024. Segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), a estiagem do ano passado foi a pior em 74 anos.
Em 2024, foram computados 278 mil focos de calor em todo o país, o sétimo maior número de toda a série histórica no INPE, iniciada em 1999. Somente na Amazônia, foram 140 mil queimadas registradas.
Segundo Erika Berenguer, na Amazônia, o fogo iniciado como prática agropecuária – para limpar pasto ou abrir áreas, por exemplo – não costumava “pular” para áreas de floresta, por ela ser úmida. Agora está tão quente, tão seco, que o fogo consegue persistir. “E o que está deixando a Amazônia cada vez mais seca? As mudanças climáticas”, diz.
Relatório divulgado na última semana pelo Serviço Meteorológico Europeu Copernicus confirmou 2024 como o ano mais quente já registrado na história das medições e o primeiro em que a temperatura média anual da Terra ultrapassou o 1,5ºC previsto no Acordo de Paris.
Segundo o relatório, o ano passado foi o mais quente para todas as regiões do globo, exceto a Antártida e a Australásia. Em 2024, diz o Copernicus, a temperatura média global ficou 1,6ºC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900).
Segundo pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o aumento médio de 1,6ºC no planeta pode ter significado 4ºC de aquecimento na Amazônia.
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