Manaus, AM — Acaba de ser descrita a mais nova espécie insular de jararaca do país. Descoberta na Ilha dos Franceses, litoral do Espírito Santo, a espécie é um pouco menor do que as parentes continentais, além de ter olhos e caudas relativamente maiores e uma cabeça também menor. A descrição da Bothrops sazimai foi publicada na edição de 4 de abril, da revista científica Zootaxa.
Os autores do estudo sugerem que ela seja classificada como “criticamente ameaçada de extinção”, por só ocorrer na ilha, que tem aproximadamente 15 hectares e fica a menos de 4 quilômetros do continente. Eles propõem também que a ilha seja transformada em uma reserva, para proteger a serpente.
Esta é a quarta espécie de jararaca descrita em ilhas brasileiras. A primeira foi descoberta na década de 1920, na Ilha da Queimada Grande, litoral paulista, a jararaca-ilhoa (Bothrops insularis). Essa serpente possui um veneno poderoso e que age rapidamente, uma adaptação aos hábitos alimentares: aves que precisam ser abatidas antes que voem.
“Por muitos anos, a Bothrops insularis foi a espécie de jararaca mais emblemática, talvez devido principalmente à coloração diferenciada (amarelada) e aos hábitos que ela apresenta”, conta o biólogo Fausto Errito Barbo, autor principal do artigo que descreve a nova espécie e que, durante o pós-doutorado no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, investiga a morfologia de jararacas.
A B. sazimai, que recebeu o nome em homenagem ao herpetólogo Ivan Sazima, provavelmente não tenha um veneno tão potente quanto o da prima jararaca-ilhoa, já que se alimenta de outro tipo de animais. A serpente da Ilha dos Franceses atraca principalmente lacraias, lagartos e pequenos anuros, presas semelhantes às de outra jararaca que vive em uma ilha: a Bothrops alcatraz, que leva o nome do local onde é encontrada, a Ilha dos Alcatrazes.
A jararaca da Ilha dos Alcatrazes havia despertado o interesse dos pesquisadores, pois ela tinha a coloração igual à do continente, mas era bem menor, portanto bem diferente da jararaca-ilhoa. A questão era desvendar se todas as populações isoladas em ilhas eram diferentes das continentais e as diferenças entre as habitantes das ilhas e o que provocou estas mudanças. “Dessa forma, uma investigação mais minuciosa começou a ser feita nas coleções científicas para estudar esses indivíduos provenientes de ilhas costeiras do estado de São Paulo”, lembra.
Barbo conta que o impulso para a descoberta da nova espécie veio do entusiasmo de pesquisadores do Espírito Santo, durante um congresso científico onde eram apresentados dados preliminares de duas outras espécies até então desconhecidas. “Fizemos duas expedições para lá, coletamos alguns exemplares e utilizamos outros já coletados por pesquisadores em meados dos anos 90”, conta.
Em 2012, Barbo participou da descrição de outra jararaca que vive ilhada, a B. otavioi, que vive na Ilha da Vitória, São Paulo. Ela foi descoberta a partir de exemplares de coleções científicas, que tinham número diferente de escamas ventrais e subcaudais, além de um corpo mais robusto. E ele afirma: há sim a possibilidade de descrição de novas espécies em ilhas.
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