Manaus, AM – Vinte e seis onças-pintadas foram mortas no Panamá até setembro deste ano, de acordo com o diretor da Fundação Yaguará Panamá, Roberto Moreno. O número já supera os registros do ano passado, quando 23 onças foram mortas no país e demonstra um aumento no abate dos predadores na região. Entre 1989 e 2014, segundo os dados apresentados no 20º Congresso da Sociedade Mesoamericana para a Biologia e Conservação, realizado em agosto no Belize, foram mortas 230 onças no país.
A principal causa do abate de onças é a retaliação por parte de fazendeiros a ataques ao gado ou a cães. Mas as onças têm ainda outras preocupações na região. Durante o Congresso, foi apresentado um panorama dos remanescentes florestais do México ao Panamá, ao longo da costa atlântica. Imagens com armadilhas fotográficas obtidas entre 2005 e 2014 em parques nacionais e fragmentos de floresta foram utilizados para saber quais ainda suportam a vida selvagem.
Moreno, que também é pesquisador associado do Instituto de Pesquisa Tropical Smithsonian (STRI, em inglês), no Panamá, lembra que a população de onças ao norte do Canal do Panamá foi isolada há cerca de 100 anos com a construção do Canal. “O continuo desenvolvimento e o desmatamento no centro do Panamá interrompem o fluxo de animais e seus genes, então agora o jaguar é considerado uma espécie ameaçada”, afirma o pesquisador.
A redução e a fragmentação do habitat atinge também uma das principais presas da onça, as queixadas (Tayassu pecari). As queixadas vivem em bandos de 10 a 300 indivíduos e são consideradas arquitetas de florestas, porque são capazes tanto de dispersar sementes quanto evitar o crescimento de plantas devido ao pisoteio. A perda de conexão entre os remanescentes florestais prejudica o crescimento de populações saudáveis da espécie.
Ao lado de onças e antas, queixadas são consideradas indicadores da saúde de ambientes tropicais. E as populações destes três animais está diminuindo na parte panamenha do corredor de floresta tropical. O Panamá já perdeu metade de suas florestas. De acordo com pesquisadores, apesar de mais de 22% da área do país estar sob algum tipo de proteção, muitos parques nacionais não suportam o número esperado de animais. A boa notícia, segundo os pesquisadores, é que é possível recriar o habitat da onça na região, com projetos de restauração florestal. Eles defendem também ações de conscientização e contrapartidas financeiras para conservação da espécie.
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Artigos:
N.F.V. Meyer, H.J. Esser, R. Moreno et al. 2015. An assessment of the terrestrial mammal communities in forests of Central Panama, using camera-trap surveys. Journal for Nature Conservation 26(2015) 28-25.
R. Moreno, N. Meyer, M. Olmos et al. 2015. Causes of jaguar killing in Panama–a long term survey using interviews. Cat news. No. 62. Spring, 2015. pp.40-42.
N.F.V. Meyer, R. Moreno, E. Sanches et al. 2016. Do protected areas in Panama support intact assemblages of ungulates? Therya 7(1):65-76 doi:10.12933/therya-16-341.
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Se tivesse um Cenap lá a situação seria outra.