Notícias

Onça morta em cerimônia da Olimpíada era mantida sem autorização

Relatório técnico aponta diversas irregularidades cometidas pelo Exército, que recebeu um total de R$ 40 mil em multas.

Vandré Fonseca ·
7 de julho de 2016 · 8 anos atrás
Juma, a onça-pintada que participou da cerimônia de revezamento da Tocha Olímpica em Manaus, foi abatida com um tiro de pistola no Centro de Instrução de Guerra na Selva, depois de tentar escapar do local. Foto: Ivo Lima/Ministério do Esporte.
Juma, a onça-pintada que participou da cerimônia de revezamento da Tocha Olímpica em Manaus, foi abatida com um tiro de pistola no Centro de Instrução de Guerra na Selva, depois de tentar escapar do local. Foto: Ivo Lima/Ministério do Esporte.

Manaus, AM — Juma, onça do Exército morta durante a passagem da tocha olímpica por Manaus, era mantida em cativeiro sem autorização do órgão responsável, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). Nem mesmo o local onde ela era mantida, o 1º Batalhão de Infantaria de Selva, tem licença para abrigar animais silvestres. Essas e outras irregularidade são apontadas no relatório técnico do Ipaam sobre a morte do animal, divulgado nesta quinta-feira, 7 de julho.

Na segunda-feira, 20 de junho, a onça Juma, um macho de dezoito anos, foi abatido a tiros quando se soltou no momento que era transportada para a jaula, logo após participar do evento no zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS). Com base na Lei de Crimes Ambientais, foram aplicadas cinco multas, num total de R$ 40 mil, a três Organizações Militares. O dinheiro será destinado Fundo Estadual de Meio Ambiente.

O relatório detalha também os acontecimentos que levaram ao sacrifício da onça. “Um dos mosquetões, uma estrutura metálica que prendia a coleira, se soltou, por apresentar uma falha”, conta Marcelo Garcia, gerente de Fauna do Ipaam. “Temos o laudo da necropsia que diz que foram dados os tiros na região frontal. Ele (o animal) estava correndo na direção da pessoa que atirou”, ressaltou. Antes do abate, foram feitas quatro tentativas de sedar o animal com disparo de tranquilizante, mas apenas um disparo atingiu a onça.

O Exército vai aguardar o encerramento de investigações internas para se manifestar, mas tem vinte dias para se defender. Depois, ainda pode recorrer ao Ipaam e ao Conselho Estadual de Meio Ambiente. O relatório será enviado também ao Ministério Público Federal. De acordo com o Ipaam, as seis onças mantidas no CIGS estão licenciadas e possuem chips de identificação. Mas o Comando Militar do Amazonas (CMA) foi notificado a dar informações sobre animais mantidos em outras organização militares do Exército no Amazonas.

O 1º BIS levou três multas, R$ 20 mil por construir e fazer funcionar mantenedouro de fauna sem licenciamento; R$ 5 mil por transportar o animal sem autorização; R$ 5 mil por mantê-lo em cativeiro também sem autorização. O CIGS e o Comando Militar da Amazônia (CMA) também receberam multas de R$ 5 mil, respectivamente, por utilizar a onça sem autorização e contribuir para as irregularidades.

MULTAS

Comando Militar da Amazônia- CMA:

R$ 5 mil por concorrer para a utilização de um (01) espécime da fauna silvestre nativa sem a autorização do órgão ambiental competente.

Centro de Instrução de Guerra na Selva – CIGS:

R$ 5 mil por utilizar de um (01) espécime da fauna silvestre nativa sem a autorização do órgão ambiental competente.

1º Batalhão de Infantaria de Selva (Aeromóvel) – 1º BIS Amv:

R$ 5 mil por transportar um (01) espécime da fauna silvestre nativa sem a autorização do órgão ambiental competente.

R$ 5 mil por ter em cativeiro um (01) espécime da fauna silvestre nativa sem a autorização do órgão ambiental competente.

R$ 20 mil por construir e fazer funcionar mantenedouro da fauna silvestre nativa sem a Licença do órgão ambiental competente.

 

 

Leia Também

Ironia: Exército abate mascote da Olimpíada

Grandes felinos são animais selvagens e merecem respeito à sua natureza

Todos os dias morre Juma

 

 

 

Leia também

Pele de onças-pintadas apreendidas em Mato Grosso. Foto: Ascom/Ibama/MT.
Análises
24 de junho de 2016

Todos os dias morre Juma

Onças-pintadas morrem todos os dias vítimas de caça, de perda de habitat, de ausência de políticas públicas efetivas, de indiferença.

Análises
24 de junho de 2016

Grandes felinos são animais selvagens e merecem respeito à sua natureza

O exército ajuda a preservação quando acolhe onças-pintadas, mas presta um desserviço perigoso e potencialmente trágico quando desfila com esses animais

Juma era mascote do 1º Batalhão de Infantaria de Selva do Exército. A onça foi abatida após ser exposta durante o revezamento da Tocha Olímpica em Manaus e escapar. Foto: Vandré Fonseca
Notícias
21 de junho de 2016

Ironia: Exército abate mascote da Olimpíada

A onça-pintada foi a espécie escolhida como símbolo da delegação brasileira. Em Manaus, depois de ser exibida no desfile da tocha olímpica, fugiu e acabou morta

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 2

  1. Luciano diz: