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Países precisam desatar nós para proteger a biodiversidade global

Em Roma (Itália), o principal entrave da COP16.2 é mobilizar rapidamente mais dinheiro para conservação, de todas as fontes

Aldem Bourscheit ·
24 de fevereiro de 2025

Esta semana em Roma (Itália), a Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica tem uma nova chance para desatar nós que entravam a agenda até 2030 para manter e restaurar a biodiversidade mundial.

São esperados ministros ao menos de países como Canadá, Noruega, França, Alemanha, Madagascar, Brasil, África do Sul, Peru e Paraguai. 

O trabalho será árduo. A COP16, a 16ª conferência de países ligados à Convenção, em outubro passado, na Colômbia, deixou pendências em série. A maior delas é sobre quem porá mais dinheiro na mesa da conservação.

O alvo são ao menos US$ 200 bilhões anuais, até o fim da década, como acordado há três anos no Canadá, na COP15. Eles viriam de fontes públicas e privadas. O valor equivale hoje a quase R$ 1,2 trilhão. Países também prometeram aumentar doações para US$ 30 bilhões, até 2030. 

Contudo, até o final do encontro na Colômbia, apenas US$ 200 milhões haviam sido garantidos. 

Além dos desembolsos minguados, a falta de acordos políticos também pode melar avanços nas negociações na Itália, que poderiam ajudar o planeta a enfrentar mais uma crise planetária.

Uma questão é como os recursos para a natureza fluem aos países. Hoje, eles correm pelo GEF, sigla em Inglês do Fundo Global para o Meio Ambiente, tido como lento, de difícil acesso e de governança pouco representativa. Ou seja, países ricos controlam o fluxo de dinheiro às nações mais biodiversas.

A questão manteve ânimos acirrados na COP16, sobretudo entre União Europeia, República Democrática do Congo (África) e Brasil. Desde então, uma proposta em voga empurra uma decisão para até o fim da década.

A letargia pode levar países para um “tudo ou nada” e emperrar outros acordos importantes para monitorar e revisar metas conservacionistas. Entre elas, está manter ao menos ⅓ dos ambientes naturais mundiais, no mesmo prazo.

Enquanto isso, outros atrasos caem na conta direta dos países. Até agora, apenas 46 das quase duas centenas ligadas à Convenção apresentaram revisões de suas estratégias e planos para manter a biodiversidade e 124 subiram informes sobre cumprimento de metas de conservação. Eles devem ser entregues até 28 de fevereiro de 2026.

Cartaz espalhado pelas ruas de Cali pedia ações imediatas para salvar a biodiversidade mundial. Foto: Aldem Bourscheit / O Eco

Mas, nem tudo são pedras no caminho. Supostos avanços também vieram das duas semanas de negociações da COP16, na colombiana Cali. 

A lista tem o reconhecimento de um papel de povos indígenas, quilombolas e tradicionais na conservação, a formação de uma rede de centros regionais para cooperação científica e técnica, um plano de ação sobre biodiversidade e saúde, procedimentos para proteger áreas marinhas mais ricas em biodiversidade, um mecanismo e um fundo para usar sequências digitais de recursos genéticos.

Conforme a Convenção, manter e restaurar a biodiversidade mundial é crucial para as economias, garantir alimentos na mesa, bem-estar e saúde humanos e até para enfrentar a crise do clima. 

A reunião complementar da COP16 acontece dos dias 25 ao 27 na sede da FAO, sigla em Inglês da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, em Roma (Itália).

  • Aldem Bourscheit

    Jornalista cobrindo há mais de duas décadas temas como Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Ciência, Agron...

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