Entre 1985 e 2020, o Brasil perdeu 15% de sua cobertura de praias, dunas e areais, o equivalente a cerca de 70 mil hectares ou duas vezes o tamanho da cidade de Belo Horizonte. Os dados levantados pelo MapBiomas a partir de imagens de satélite apontam que a cobertura deste tipo de superfície arenosa foi reduzida para 382 mil hectares em 2020, contra os 451 mil existentes em 1985. Entre os motivos da diminuição estão o avanço de empreendimentos aquícolas e salineiros, e a pressão imobiliária sobre esses ambientes.
As áreas de aquicultura – composta por lagos artificiais para cultivo de peixes e frutos do mar – e salicultura – para exploração de sal –, aumentaram em 39% nos últimos 36 anos. A área ocupada pelos setores se expandiu de 36 mil hectares, em 1985, para 59 mil em 2020. A produção de sal no Brasil está concentrada nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará, que lideram em número as áreas de salinas e tanques aquícolas no país, com 82% do total existente no Brasil. Chama atenção ainda que parte da atividade (8%) ocorre dentro de unidades de conservação.
A revegetação do topo das dunas e a expansão de espécies invasoras também colaboraram para redução dos ambientes arenosos, conforme apresentado pela equipe do MapBiomas. Um exemplo desta dinâmica de mudança de uso do solo pode ser vista no Rio Grande do Sul, onde os pinheiros têm avançado sobre campos de dunas em locais onde as florestas plantadas fazem fronteira com as dunas.
Os pesquisadores também destacam a baixa proteção destes tipos de ambiente, essenciais para o controle da erosão costeira e preservação da faixa litorânea. Das 2.544 unidades de conservação brasileiras, apenas 340 (13%) protegem a zona costeira brasileira. Nelas está garantida a proteção de 40% dos ambientes de dunas, praias e areais do Brasil.
“Por conta do Parque Nacional de Lençóis Maranhenses e da Área de Proteção Ambiental das Reentrâncias Maranhenses, o Maranhão lidera na proteção de dunas/praias e manguezais, respectivamente”, afirma Pedro Walfir, coordenador geral do tema zona costeira do MapBiomas. O estado protege a quase totalidade (98%) de suas praias, dunas e areais, 96% de seus apicuns (áreas salinizadas desprovidas de vegetação) e 86% dos seus manguezais. “Portanto, o Maranhão é o estado com maior extensão de ambientes costeiros protegidos por UCs do país e um dos mais conservados”, acrescenta Pedro.
O Maranhão é justamente o estado com maior extensão de praias, dunas e areais, com 101.565 hectares, seguido pelo Rio Grande do Sul, com 97.395 hectares. Juntos, os dois estados concentram mais da metade (52%) destes ambientes do país. O terceiro colocado é o Ceará, com 54.608 hectares, seguido por outros dois estados da região nordeste: a Bahia, com 38.881 hectares, e o Rio Grande do Norte, com 35.870.
Manguezais e apicuns
O levantamento realizado pelo MapBiomas também avaliou a dinâmica de cobertura das áreas de manguezais, que se mantiveram relativamente estáveis ao longo dos últimos 36 anos. Em 1985, o primeiro ano da série, eram 946 mil hectares totais que se expandiram nos anos seguintes, ultrapassando a marca de 1 milhão de hectares no início dos anos 2000. Nos últimos 20 anos, entretanto, os manguezais reverteram o crescimento e, em 2020, havia o total de 981 mil hectares de mangues no Brasil. A maior parte das mudanças associadas a vegetação de manguezal são resultado de transições com coberturas naturais, principalmente florestas.
A cobertura de apicuns também foi analisada pelo MapBiomas. Os apicuns são superficies dinâmicas, hipersalinas, associadas ao regime de marés e intrinsecamente ligadas aos manguezais, com transições entre momentos mais secos ou recobertos por água. Muitas vezes, em uma dinâmica natural, os apicuns dão espaço a futuros manguezais e vice-versa.
Em 1985, a área de apicuns no país era de 53 mil hectares. Ao longo dos últimos 36 anos, este número oscilou com altos e baixos. E no último ano, ocupava 57 mil hectares. Mais da metade desta cobertura (58%) está localizada no estado do Maranhão.
No Brasil, 75% dos manguezais e 56% dos apicuns estão protegidos por algum tipo de unidade de conservação.
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