Manaus, AM – Se deixar, a motosserra destrói. Se proteger, ainda faltam garantias de que a Amazônia vá resistir por muito tempo. Mas a equipe de pesquisadores liderada pelo meteorologista Carlos Nobre acredita que ainda há um caminho para salvar a floresta. Em um artigo publicado esta semana na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), ele e outros pesquisadores defendem emprego de alta tecnologia para aproveitar e preservar a biodiversidade da região.
“Estamos propondo quase uma Revolução Bioindustrial”, destaca Carlos Nobre. ”O maior recurso que a floresta tem está escondido na biodiversidade, nas estratégias que essa biodiversidade encontrou para manter dezenas de milhares de espécies”, completa. Para os pesquisadores, empresas biotecnológicas poderiam ser um vetor de desenvolvimento e ao mesmo tempo aliadas na proteção da floresta, afinal dependeriam dela para sobreviver.
No artigo, os pesquisadores alertam que grande parte da floresta pode dar lugar a uma savana degradada sob diversos cenários. São projeções que já haviam sido feitas e publicadas, mas pela primeira vez aparecem juntas. E indicam a vulnerabilidade da Amazônia às mudanças globais que ocorrem atualmente, como alterações na paisagem e mudanças climáticas.
Mesmo controlando o desmatamento, afirma Nobre, se a temperatura média na região aumentar 4º Celsius, a floresta pode não suportar. “Vários estudos conduzidos pelo meu grupo de pesquisa e por outros, internacionalmente, chegaram a limites absolutos, que se você ultrapassar corre o risco do que chamei de savanização da Amazônia”, destaca.
Apesar de ainda estar longe dessa marca, já que a temperatura na região aumentou 1ºC (1,5ºC em áreas desmatadas, segundo o pesquisador), existem outras ameaças. Se o desmatamento passar dos 40% da floresta, há risco de uma mudança regional que leve a mudança da paisagem. Incêndios florestais também podem levar a degradação da floresta tropical.
Carlos Nobre destaca que o estudo também levou em consideração o ganho da floresta com o aumento da concentração de CO2 na atmosfera, que favorece o crescimento das árvores. Sem esse dado, os resultados seriam ainda piores. Um quadro que torna insuficientes tanto a perspectiva de transformar a Amazônia em um santuário intocado quanto aproveitamento das áreas desmatadas para a agricultura.
“A nossa conclusão é que nenhuma dessas estratégias preserva ad eternum a Amazônia”, ressalta. Ele lembra que há desmatamento mesmo dentro de Unidades de Conservação, o que demonstra a ineficiência de cercar a Amazônia. Por outro lado, o aproveitamento de áreas já degradadas para a agricultura pode induzir ao desmatamento. “Aumentar a produtividade por si traz dinheiro para a região da atividade agrícola e esse dinheiro só encontro modo de se reproduzir com a expansão da produção sobre a floresta”, explica.
Claro que o modelo defendido no artigo pressupõe tanto a manutenção ou ampliação das Unidades de Conservação e a intensificação da produção agrícola. E inclui também a necessidade de melhorar a qualidade de vida na região. Ele destaca que na Bacia Amazônica vivem aproximadamente 40 milhões de pessoas, que precisam se beneficiar de uma atividade econômica dinâmica. “Não seria aceitável um modelo econômico de extração da região em que essas populações não sejam beneficiadas”, afirma.
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