Manaus, AM — Um novo levantamento aponta a existência de 14.003 espécies de plantas com sementes conhecidas pela ciência na floresta amazônica. O resultado, publicado esta semana da revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), diverge muito de um levantamento apresentado no ano passado.
O novo estudo indica que menos da metade das espécies conhecidas na região (6.727) são árvores. No ano passado, em artigo publicado na revista Scientic Reports, botânicos haviam calculado a existência de quase 12 mil espécies de árvores na região.
“A gente não está diminuindo o quanto é extraordinária, o quanto é majestosa a floresta amazônica, a gente está tentando mostrar que as listas anteriores, feitas por não especialistas, sem conferência taxonômica, são espúrias”, afirma o autor principal do artigo, o taxonomista Domingos Cardoso, da Universidade Federal da Bahia.
De acordo com ele, foram encontrados erros em 40% da lista anterior. Espécies como o pau-brasil, o palmito juçara e a magnólia, cultivadas mas que não são nativas da Amazônia, estão na lista apresentada no ano passado, confirma explica Cardoso. Havia também sinônimos de nomes de plantas da mesma espécie.
De acordo com o levantamento, ervas, arbustos e epífitas são tão ricas quanto árvores, mas frequentemente negligenciados em pesquisas sobre diversidade tropical.
O estudo se baseou em informações taxonômicas atualizadas sobre espécies encontradas em herbários e museus, analisadas por centenas de especialistas de todo o mundo. Um exemplo é a plataforma Flora do Brasil 2020.
Para viabilizar o estudo, foram consideradas áreas de floresta tropical úmida com altitude abaixo dos 1000 metros. Florestas do Peru, Colômbia, Panamá, Venezuela e Guianas não banhadas pela Bacia Amazônica foram incluídas. Porém, os cerrados e florestas secas existentes dentro do Bioma Amazônia foram excluídos.
“A gente não está falando por uma região geográfica, dentro de uma delimitação política, separando pelos estados da região amazônica, mas pela floresta tropical úmida”, explica Domingos Cardoso. “A gente tem que fazer um ponto de corte, e acima de 1000 metros, por exemplo na Bacia do Rio Negro, você tem tepuis”.
O resultado demonstra o quanto ainda são necessários estudos taxonômicos na Amazônia, na opinião do botânico Charles Zartman, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que participou do levantamento.
“Dentro de um ano, a gente conseguiu modificar dramaticamente a lista de espécies conhecidas na Amazônia”, afirma Zartman. “A gente não chegou até o fim da linha, ela vai continua. Pode não ser um passo tão dramático nos próximos anos, mas vai continuar”, completa.
Saiba Mais
Artigo: Amazon plant diversity revealed by a taxonomically verified species list.
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