Há uma novidade brotando no solo onde cresce a floresta amazônica. O ciclo do desmatamento, antes restrito ao período de seca na região Norte, que vai de junho a outubro, começou este ano em janeiro no Mato Grosso. No governo essa mudança de datas não é vista como sinal de que o desmatamento vai crescer, mas que o seu ciclo foi adiantado. Ainda assim, é uma notícia ruim. Para início de conversa, se isso se tornar prática rotineira, vai dificultar bastante o monitoramento anti-desmatamento na região.
No ano passado, o governo criou um sistema, o Deter, baseado em imagens de satélite, para monitorar o desflorestamento na Amazônia em tempo real. Mas para funcionar direito, ele precisa de céu sem nuvens, situação rara na região durante os meses de chuva.
Mesmo assim, o Deter foi capaz de enxergar atividades de desflorestamento em fevereiro e março em vários municípios no Norte do Mato Grosso. Em Nova Ubiratã e Nova Maringá, por exemplo, as lentes do satélite que serve ao Deter capturaram focos de desmatamento que variavam de 80 hectares a 2110 hectares.
O adiantamento do ciclo não serve apenas de sinal de que a repressão oficial contra o corte indiscriminado de árvores vai ficar mais complicada. É um indício também de que pelo menos no Mato Grosso, a turma que derruba a floresta está mais capitalizada e dispõe de melhor tecnologia para cortar árvores. “Ainda é cedo para se confirmar isso, mas pode-se dizer que são especulações que têm boa dose de suporte da realidade no estado”, diz um técnico do Ministério do Meio Ambiente (MMA) que prefere manter o anonimato.
Derrubar floresta na Amazônia fora do período de seca é tarefa nada trivial. O deslocamento no solo fofo e enlameado da floresta fica mais difícil. A retirada de troncos derrubados idem. Só pode fazer isso quem tem dinheiro para investir em mecanização de ponta na atividade do corte. No Mato Grosso, quem está capitalizado para enfrentar uma situação desse tipo são os plantadores de grãos. Além dos meios, os técnicos do governo acham que eles também tem motivos para serem os responsáveis pelo adiantamento do ciclo de desmatamento.
“A agricultura intensiva de grãos precisa ter um ciclo rápido. Desmatando nos meses de seca, os fazendeiros só podiam plantar no ano seguinte”, diz alto funcionário do MMA. “Dando partida no processo em janeiro, eles conseguem fazer o plantio no mesmo ano”. Azar do mato.
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