O procurador da República no Mato Grosso, Mário Lúcio Avelar, levou aos deputados os resultados das investigações sobre a Operação Curupira, que prendeu uma quadrilha suspeita de fraude e corrupção no Ibama. Em mais uma reunião da CPI da Biopirataria, realizada dia 21, ele explicou que uma articulação nacional se organizou para o comércio ilegal de madeira em larga escala. Essa rede falsificava, adulterava, furtava ou roubava Autorizações para Transporte de Produtos Florestais, as ATPFs, para justificar esse comércio pelo País.
Contudo, na reunião, o mais surpreendente foi saber que cerca de 50 madeireiras que atuavam dentro de reservas indígenas simplesmente trocavam a madeira por carros. “Um escambo que contrasta, dentro da mesma operação, com os requintes profissionais de aprovação dos planos de manejo, pelo Ibama, dentro dessas terras”. O procurador afirmou que foi assim com o Parque Nacional Indígena do Xingu, e fez uma contagem de 197 áreas dentro ou ao redor de reservas usadas pelas madeireiras e criticou a estrutura do Ibama. “Não é possível controlar, a partir de Brasília, esses planos de manejo”, criticou. “É preciso mudar profundamente a estrutura de controle do Ibama”, complementou o procurador, ao denunciar planos de reposição florestal por empresas privadas, que “não fazem o reflorestamento de forma correta”.
O procurador acredita que não basta controlar a situação no Mato Grosso, porque a corrupção continua em outros estados. Disse que “o sistema se restabelece, criando alternativas”, alertou. Muitas vezes, multas não são cobradas ou há casos até de trocas. O desmatador, disse Avelar, vai até o gerente do Ibama e faz um acordo de manejo, um plano de recuperação da área degradada. Nesses casos, a multa cai até 90% do valor original. O procurador também acusou o gerente-executivo substituto do Ibama no Mato Grosso, Marcos Pinto Gomes, preso sob suspeita de corrupção e enriquecimento ilícito. Gomes, que é um policial federal cedido ao Ibama, teria ficado oito anos na instituição sem responder a nenhum inquérito.
O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que é integrante da CPI, perguntou sobre o grupo interministerial criado para implementar o plano de prevenção de desmatamento da região, o procurador disse que “não saiu do papel”.
Sobre o ex-diretor de Florestas Antonio Carlos Hummel, preso no início do mês pela Polícia Federal, ele disse não ter certeza de seu envolvimento com a exploração ilegal de madeira no estado. “Não posso afirmar que Hummel esteja vinculado às quadrilhas, mas há um descontrole intenso no departamento de florestas do Ibama”, assegurou. Quanto ao ex-gerente-executivo do Ibama no Mato Grosso Hugo José Werle, preso na mesma operação, o procurador não poupou palavras. “Não tenho dúvidas de que Werle participou do esquema de corrupção. Há indícios de enriquecimento ilícito.”
Hugo Scheuer Werle, o ex-gerente do Ibama no estado e um dos que foram presos na operação da Polícia Federal, acusado de corrupção passiva e enriquecimento ilícito,estava presente e chegou algemado, mas não perdeu a pose: Disse que vai “resgatar” sua imagem pública. Depois de ter as algemas retiradas e sentar á mesa, ele se defendeu das acusações de enriquecimento ilícito e entregou à CPI as declarações de bens dele e da esposa. “Minha história de vida foi desrespeitada, principalmente quando o presidente (do Ibama) Marcus Barros, de forma leviana, disse que tive enriquecimento ilícito”, protestou. Werle afirmou que, quando assumiu a gerência do instituto, já tinha patrimônio declarado de R$ 346 mil, incluindo duas casas em Cuiabá e uma em São Paulo. Ele afirmou também que sempre teve carros novos e o único patrimônio novo que adquiriu desde a posse no governo foi um terreno em Alphaville, São Paulo, avaliado em R$ 70 mil. Werle disse ainda que combateu a corrupção “de forma incessante” durante sua passagem pelo Ibama. Segundo ele, muitas das investigações que promoveu foram operações conjuntas com a Polícia Federal, a mesma que lhe escoltou na reunião.
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