“Vamos provar que o Brasil é capaz de resolver os próprios desafios ambientais. Temos agora um ponto de partida racional”. As palavras de Guilherme Leal, presidente da Natura, fizeram todo sentido no último domingo, 17 de julho, quando ele apresentou em Brasília o projeto da primeira Escola Superior que vai formar mestres e doutores em Meio Ambiente no país.
Até hoje, desenvolver projetos sustentáveis no Brasil ainda é uma questão de fé. Acreditar em um plano, inventar um começo no meio do caos, convencer investidores, reeducar uma comunidade, resgatar antigos conhecimentos e tirar proveito econômico da floresta de pé evitando conflitos de interesses nessas ações… todos grandes desafios.
Para Guilherme Leal, é hora de superar esta fase de pioneirismo de empresas e entidades que emplacaram com sucesso seus projetos sustentáveis, para dar lugar a um projeto maior, um ponto de referência nacional de estudo e aplicação da sustentabilidade e conservação socioambiental. Para isso, é preciso construir uma ponte com a área acadêmica.
Este será o papel da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade. O nome ainda é provisório, mas ela será a primeira instituição do gênero no país. Enquanto a Natura cria um fundo fiduciário e tenta conquistar novos parceiros para bancar a proposta, a responsabilidade científica de implementar a Escola está a cargo do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), que vai abrigá-la a partir de 2007, em sua sede em Nazaré Paulista (SP).
A idéia de uma Escola Superior de Meio Ambiente nasceu há vinte anos, quando o assunto era chamado apenas de ecologia. Coisa de doido, sem a mínima importância. “Foi um sonho, um acesso de loucura que eu mantive vivo”, lembra Cláudio Pádua, fundador do Ipê. Naquela época, ele e Suzana Machado Pádua, sua mulher, PhD em Educação Ambiental e hoje presidente do Instituto, começaram a trabalhar a questão ambiental voltada para o desenvolvimento humano. Não demorou até que percebessem que educar as comunidades, por meio de cursos de capacitação, era o único caminho para a inclusão social e a preservação do meio ambiente. As ações foram se ampliando, até que a idéia de uma escola superior foi inevitável.
O campus, em Nazaré Paulista, a 100 km da capital, vai ter 5 mil m² de área construída e capacidade para abrigar 50 pesquisadores entre mestrandos e doutorandos. A planta do projeto foi concebida por meio de um concurso, cuja finalidade era introduzir o conceito de sustentabilidade na própria construção. O arquiteto ganhador, Newton Massafumi, desenvolveu uma estrutura arejada e leve, que se encaixa no relevo da área escolhida com o mínimo de pontos de contato com o solo.
A idéia é integrar a rotina da Escola à dinâmica da mata ao redor, que vai ser completamente recuperada. O maior desafio foi trabalhar com a madeira, material escolhido para toda a estrutura. “Os pontos de junção e encaixe e toda a proposta com madeira envolvem uma complexidade bem maior do que outros materiais”, explica o arquiteto. A madeira, garante ele, “pode ser tão resistente quanto o concreto”.
De concreto mesmo, só os sonhos desses malucos do bem. Depois de ver a escola funcionando, Suzana Pádua já aspira multiplicar a idéia pelo país, sacudindo outras empresas como a Natura. Cláudio Pádua voa ainda mais alto. “O que a gente quer mesmo é mudar o mundo”. E a gente começa a acreditar.
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