Reportagens

Vendo baleias

As francas ficam nadando com seus filhotes pelo litoral de Santa Catarina até fins de outubro. Vê-las vale uma viagem. Mas leve junto o espírito de aventura.

Manoel Francisco Brito ·
16 de setembro de 2005 · 19 anos atrás

Se você quiser avistar baleias francas na costa de Santa Catarina, ainda sobra tempo. As fêmeas que começaram a chegar por lá em agosto com seus filhotes só iniciam a sua viagem de volta à Antártica a partir do final de outubro. Até lá, ainda deve dar para vê-las nadando com suas crias bem pertinho da arrebentação (foto). E esse ano tem tudo para bater o recorde de visitas de exemplares do mamífero à região. Em agosto, segundo dados compilados pelo Projeto Baleia Franca, foram feitas 61 avistagens. No sábado, dia 17 de setembro, José Truda e Karina Groch, coordenador e bióloga chefe do Projeto, subiram num helicóptero para fazer um sobrevôo da costa. Antes da partida, previam encontrar pelo menos uma centena de indivíduos da espécie nas águas do litoral catarinense.

Eu passei 5 dias na região de Imbituba, na semana do feriado de 7 de setembro e fiz 13 avistagens. Duas de terra. Uma foi no farol do Cabo de Santa Marta. Vi três fêmeas com seus respectivos filhotes. A outra na praia da Ribanceira, em Imbituba, duas fêmeas e dois filhotes. A terceira foi de barco, na praia de Ibiraquera, também em Imbituba. Enxerguei três baleias. De longe, esta última foi a experiência menos interessante. Os bichos estavam relativamente quietos, o capitão do barco, além de excessivamente cauteloso, era ruim de aproximação e alguns companheiros de empreitada enjoaram com o balanço do mar, o que fez com que parte do convés virasse área de despejo de vômito.

O belo passeio de barco compensou a frustração de não conseguir ver a baleia direito. Mas para quem pretende fazer o mesmo, é bom ter certeza de que as ondas não embrulham seu estômago. O passeio demora pelo menos três horas e a turma que enjoa garante que é um sofrimento ficar dentro de um barco durante tanto tempo. Torça também para que o seu comandante esteja mais para velho lobo do mar do que para guia de turismo. Nada contra os guias. Eles só não foram criados para navegar.

E lembre-se que em Santa Catarina sempre dá para ver muito bem os bichos dos pontos elevados da costa. A minha experiência de avistá-los de terra foi bem mais legal, apesar do frio e do vento que tomei pela cara em ambas ocasiões. Nada que um bom rompe-vento e algumas camadas de blusão e camisetas por debaixo dele não conseguissem resolver.

Duas advertências importantes, aliás, três, para quem pretende se aventurar pelo litoral catarinense em busca de baleias franca nos próximos 45 dias. A primeira é que ajuda muito ter um carro à mão para se deslocar pela região. As baleias podem surgir ao longo de 130 quilômetros de costa. A segunda é que é muito complicado fotografar esse bicho. Mesmo com um equipamento de boa qualidade e teleobjetiva. É difícil antecipar seus saltos ou batidas de cauda. Não é à toa que dez entre dez amadores de fotografia como eu acabam tirando muitas imagens ou fora de foco ou por pura sorte, ou ambas, como esta aí ao lado (foto).

Bem, a terceira é que qualquer visita ao litoral catarinense nesta época do ano exige um mínimo de espírito de aventura. Não há quase nenhuma estrutura de turismo disponível. Poucos são os restaurantes que abrem. E os que abrem, o fazem em dias incertos. Também não há muita escolha em termos de hotéis. São igualmente poucos os que funcionam nesta época do ano. Eu fiquei na Pousada do Surf. Não há grande luxo, mas o hóspede será muito bem tratado. Em Imbituba, uma boa opção é o Hotel Silvestre. Para quem não vive sem muito conforto, a pedida é a Ilha do Papagaio, que tem uma das melhores pousadas do país.

Seja lá onde o turista decidir ficar, um lugar que ele não pode deixar de freqüentar é a sede do Projeto Baleia Franca, em Itapirubá, alguns poucos quilômetros ao Sul de Imbituba. Lá, além de se obter informações sobre onde andam sendo vistas as baleias, pode-se também ajudar na conservação dos bichos comprando camisetas, bonés e bijuterias com a marca da Ong ou motivos, claro, inspirado nas baleias. Em tempo, as informações sobre avistagens estão também disponíveis no site do Projeto na Internet.

Se você gosta de festa, não espere até outubro para ir ver as francas. Na verdade, corra para pegar um resto das comemorações da Semana da Baleia Franca. A sua 9ª edição começou neste sábado, em Imbituba. A idéia por trás do evento é celebrar o retorno dos mamíferos ao litoral da região e incentivar a população local a valorizar a sua presença. Os festejos vão incluir um show de música, a etapa final de um campeonato de surf e uma cavalgada por áreas de costa para avistar o animal.

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