Reportagens

O futuro das árvores

Encontro em Pequim serve de prova que as florestas mundiais passam por momento legal decisivo. Vários países estão revendo suas políticas de exploração de madeira.

Manoel Francisco Brito ·
25 de setembro de 2005 · 20 anos atrás

Neste fim de semana, partiram rumo à Pequim diretores de florestas de governos de vários países, entre eles Tasso Azevedo, representante do Brasil. Eles vão se reunir na capital chinesa durante dois dias para discutir e trocar experiências sobre suas políticas florestais. Do encontro, não vai sair nenhuma decisão bombástica sobre o destino do mato no mundo. Mas isso não tira a sua importância. O simples fato de ele estar acontecendo é um claro sinal de que o que resta de área de floresta no planeta está vivendo um momento de grande ebulição regulatória que, vai definir o futuro de milhões de árvores daqui para frente.

As principais estrelas do encontro serão os países que são conhecidos como megaflorestais, isto é, que ainda possuem grandes estoques de mato em seu território – como Brasil, Rússia e Canadá – e os grandes consumidores mundiais. Neste grupo, a atenção dos participantes do encontro vai estar concentrada sobre a China, país de florestas devastadas e que, em dois anos, graças ao seu desenvolvimento econômico desenfreado, ultrapassará os Estados Unidos como o maior consumidor mundial de madeira.

Entre os países megaflorestais, o que existe de comum é que todos estão revendo a sua política de gestão de florestas. “Cada um a sua maneira”, explica Azevedo. Na Rússia, por exemplo, as florestas são 100% nacionalizadas desde a consolidação da Revolução Comunista, no início do século XX. Não há nenhuma política definida para sua exploração e dificuldade em controlar o seu uso. A Rússia acompanha com interesse a evolução do assunto no México e no Brasil.

Os mexicanos passaram por mudança radical na sua política florestal desde que o presidente Vicente Fox assumiu o poder. Até então, o país seguia o modelo implantado durante a Revolução Zapatista de 1910 que designou as áreas de floresta como sendo de uso exclusivo das comunidades indígenas que habitavam no seu entorno. Fox fez uma curva de 180 graus e deu título de propriedade sobre as florestas a estas comunidades. Muitas preferiram se livrar do dever de gerenciá-las e venderam seus títulos a investidores privados.

Por aqui, o que atrai o olhar dos russos é o projeto de lei sobre Gestão de Florestas Públicas que atualmente tramita no Congresso. Ele já passou na Câmara dos Deputados e, no Senado, aguarda apenas o selo de aprovação da Comissão de Constituição e Justiça para ser colocado em votação no plenário. Pode ainda demorar, mas o governo aposta que ele vai passar. Em resumo, o projeto permite a exploração de florestas públicas em regime de concessão por investidores privados com base em planos de manejo florestal. Ao contrário do modelo mexicano, ele separa a propriedade da terra da exploração do mato que cresce em cima dela.

O caso da China está sendo acompanhado pelos países do mundo com régua e compasso por um motivo diferente. A questão para os chineses não é tanto as suas florestas, mas a falta delas num país ávido pelo consumo de madeira. O problema da China é como reflorestar em larga escala. Do sucesso dessa política, vai depender em grande parte o tamanho do mercado exportador de madeira de outros países – e consequentemente o grau de exploração a que serão submetidas as suas florestas. Está em jogo também a capacidade interna da China de suprir a sua própria demanda.

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