Reportagens

Acertando os ponteiros

Ibama de Mato Grosso aplica R$ 155,7 milhões em multas, apreende 50 mil m3 de madeira em sete meses e sugere mudanças no controle ambiental do estado.

Andreia Fanzeres ·
8 de julho de 2006 · 18 anos atrás

Na última sexta-feira, autoridades ambientais de Mato Grosso prestaram contas ao governo federal. Cuiabá estava oficialmente de luto por causa do falecimento do ex-governador Dante de Oliveira, mas isso não atrapalhou a apresentação de representantes da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) e do Ibama sobre o que haviam feito de janeiro a julho deste ano em relação ao controle ambiental do estado.

Segundo o chefe da fiscalização do Ibama em Mato Grosso, Leslie Tavares, as ações do órgão federal nesses sete meses foram bem sucedidas. Consideradas prolongadas (duravam entre 15 e 30 dias cada) os trabalhos obtiveram êxito devido à organização interna do órgão federal, que ganhou um serviço de inteligência e passou a se comunicar melhor com as unidades do interior, além de passar a atuar em parceria com a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça.

Os números são substanciais. Em 12 operações realizadas como parte do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, foram lavrados 320 autos de infração e aplicados R$ 155,7 milhões só em multas. A área embargada por desmatamentos ilegais ficou na casa dos 55 mil hectares e cerca de 50 mil metros cúbicos de madeira foram apreendidos.

Para se ter uma idéia, só numa operação que durou 15 dias no entorno de Juína, a 800 quilômetros de Cuiabá, a equipe de fiscalização aplicou R$ 25 milhões em multas e apreendeu pouco mais de 20 mil metros cúbicos de madeira, entre toras e material serrado encontrado nos pátios das empresas.

Uma das últimas terminou no dia 30 de junho em Alta Floresta e ficou conhecida como “Green Fechadas”. Segundo informou o chefe do Ibama de lá, Rodrigo Dutra, essa e uma operação anterior, a “Surucucu”, serviram para identificar desmatamentos em Área de Preservação Permanentes (APPs), coibir transporte ilegal de madeira e fazer vistorias em áreas de desflorestamento localizadas pelo sistema Deter – atividades possíveis graças ao funcionamento da base operativa na cidade. Além de Alta Floresta, desde fevereiro o Ibama implementou as bases de Sinop e, mais recentemente, Aripuanã – região que tem sofrido as pressões mais novas de abertura de fronteira para desmatamento, especialmente nos municípios de Colniza e Cotriguaçu.

Ações com o estado

Foi justamente lá que teve início, na própria sexta-feira, a primeira operação em parceria com o estado. “O desmatamento tem avançado naquela região, com forte grilagem de terra, principalmente na direção do rio Pardo. Esperamos retirar os principais personagens desse esquema”, explica Tavares. A idéia é manter as equipes de fiscalização na região para “estrangular” a retirada ilegal de madeira.

Essa parceria com o estado, apesar de sacramentada há quase um ano, só agora mostra sinais de que vai acontecer efetivamente. “Vamos tentar estabelecer competências. O Ibama tem que investir em áreas de interesse da federação, concentrar recursos humanos e materiais em terras indígenas, unidades de conservação e na Amazônia”, avisa. Outros ilícitos de menor potencial ofensivo como, segundo ele, piracemas, licenciamento e outros desmatamentos ficam sob responsabilidade estadual.

Além das operações, até então o Ibama esteve envolvido num processo de investigação de falhas do sistema de gestão florestal que o governo estadual desenvolveu. Tavares reconhece que não existe controle perfeito, mas preocupa-se com a agilidade da criminalidade do estado, pois em apenas quatro meses em vigor, as guias florestais – que substituíram as Autorizações para Transporte de Produtos Florestais – já estão sendo largamente clonadas. “Essas guias não deveriam ser impressas sem o preenchimento de dados essenciais da empresa madeireira que solicita”, diz.

Boa parte dos problemas de gestão florestal acontece aonde a infra-estrutura chega antes do poder público, o que aumenta a necessidade de realizar ações de fiscalização, que acontecem com um contingente sempre insuficiente diante das demandas. É como uma faca de dois gumes. “Não podemos impedir que chegue luz e asfalto em áreas longínquas do estado, mas sabemos que são esses os recursos que facilitam também a instalação das indústrias madeireiras”.

No mês que vem o governo prometeu divulgar os números do desmatamento de agosto de 2005 a agosto de 2006. Extra-oficialmente, Mato Grosso conseguiu diminuir o desflorestamento em cerca de 30% em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo informou um dos servidores que estava presente à apresentação desses dados, o objetivo do Ibama é que o desmatamento caia mais 15% entre 2006 e 2007.

  • Andreia Fanzeres

    Jornalista de ((o))eco de 2005 a 2011. Coordena o Programa de Direitos Indígenas, Política Indigenista e Informação à Sociedade da OPAN.

Leia também

Reportagens
27 de dezembro de 2024

Poluição química de plásticos alcançou os mais antigos animais da Terra

Estudos identificaram que proteínas geradas nas próprias esponjas marinhas eliminam essas substâncias prejudiciais

Reportagens
26 de dezembro de 2024

2024 é o primeiro ano em que a temperatura média da Terra deve ultrapassar 1,5ºC

Acordo de Paris não está perdido, diz serviço climatológico europeu. Confira a galeria de imagens com os principais eventos extremos de 2024

Salada Verde
26 de dezembro de 2024

Obra milionária ameaça sítio arqueológico e o Parna da Chapada dos Guimarães, no MT

Pesquisadores, moradores e empresários descrevem em documentário os prejuízos da intervenção no Portão do Inferno

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.