Reportagens

Qual é o seu parque?

A área verde da cidade de São Paulo não se resume ao Parque do Ibirapuera, há muito mais. Só falta os paulistanos descobrirem o tamanho do quintal de casa.

Karina Miotto ·
21 de julho de 2006 · 18 anos atrás

Depois de uma semana de obrigações, trânsito e muita poluição, chega a sexta-feira para os paulistanos. Melhor, o momento de relaxar. Mas onde? Se você gosta de natureza, saiba que dentro da cidade existem 32 parques municipais que, juntos, somam mais de 15 milhões de m² de áreas verdes, ou 15 mil hectares. É só escolher.

O primeiro que vem à cabeça é o Ibirapuera, o mais famoso da capital e que recebe no fim de semana cerca de 150 mil pessoas vindas até mesmo de outros municípios. Mas aí é que está: ele não é o único. “Os parques menores são pouco utilizados como lugar de lazer e contemplação. É uma questão cultural que precisamos reverter”, afirma Patrícia Marra Sepe, uma das coordenadoras do Atlas Ambiental do município. “Moradores de uma área não conhecem parques de outras regiões”, completa Eduardo Jorge, secretário de meio ambiente da cidade. Como diz Mário Mantovani, diretor da SOS Mata Atlântica, parque é o quintal que não tem no apartamento. “As pessoas começam a entender sua importância, mas ainda não os sentem como se fossem seus”, afirma.

Yvonne Olivares, que trabalha com eventos e tem um filho de quatro anos, descobriu há algum tempo parques menos conhecidos como o Cidade de Toronto e o Anhanguera, que detêm nove dos 15 mil hectares de área verde de São Paulo. “Já cheguei a sair às 17h para ir ao Villa-Lobos [parque estadual], esquecendo que existem outras opções. Depois de conhecê-las, passei a me sentir mais acolhida, pois agora tenho liberdade para escolher aquele que mais se adapta à vontade que tiver no dia”, afirma.

A cidade possui seis parques municipais na zona Leste, nove na Norte, quatro na Oeste, quatro no centro e nove na Sul, sem contar os oito estaduais. Cada um com sua história, beleza e peculiaridades. O Cidade de Toronto, por exemplo, criado em 1992 no bairro City América, foi inspirado na paisagem canadense. Tem lago com patos e peixes, pista de corrida, trilhas, ciclovia, quadra poliesportiva, quiosques e playground com brinquedos típicos do Canadá.

O parque Chico Mendes, que fica na Vila Curuçá, tem barra de ginástica, trilha e esculturas em peças de madeira. O São Domingos, no bairro do mesmo nome, tem campo de futebol, quiosque e lago. O Lina e Paulo Raia, no Parque Jabaquara, tem ciclovia e bosque. E o Burle Marx, no Morumbi, tem pista para caminhada, trilhas e mata nativa secundária. 

A mesma variedade vale para os parques estaduais localizados na capital. Embora os mais famosos sejam o Parque Estadual Alberto Loefgren (mais conhecido como Horto Florestal), o Jaraguá, o Villa-Lobos e o Ecológico do Guarapiranga, não custa nada prolongar o quintal para o Parque Estadual da Cantareira, ou das Fontes do Ipiranga, ou Ecológico do Tietê ou ainda o parque Dr. Fernando Costa (Água Branca).

As áreas verdes dos parques atraem variadas espécies de pássaros. Portanto, são grandes as chances de se deparar com garças, beija-flores, bem-te-vis, pardais e pica-paus. “Em uma cidade com tantas desigualdades, parques são pólos de convivência democrática onde todo mundo é igual. São espécies de utopias urbanas de igualdade e de convivência com a natureza”, afirma Eduardo Jorge.

Periferias

A região de São Paulo que tem menos parque é a periferia. “Loteamentos clandestinos e ocupação irregular em certas áreas nas décadas de 80 e 90 não deixaram espaço para a implantação de parques e praças. Não houve lógica em atender a parâmetros urbanísticos da legislação, que pede 30% de destinação a áreas públicas”, afirma Patrícia Sepe.

Mas a quantidade de parques vai aumentar. De acordo com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, 14 estão em implantação e pelo menos três deles em bairros periféricos: o Shangrilá, na Capela do Socorro, o Darci Silva, em Jurubatuba e o Trote, na Vila Guilherme.

Outra novidade é a aprovação do Parque Natural Cratera, de 500 mil m² em Parelheiros. Ele terá visitação restrita e ficará dentro da Área de Proteção Ambiental Capivari-Monos. Quanto a unidades de conservação estaduais, o governo está com o projeto de implantação do Parque Ecológico Fazenda Tizo, na zona Oeste.

Parques em áreas urbanas favorecem a integração social, ajudam a amenizar a temperatura, beneficiam a biodiversidade e ainda valorizam a paisagem. Portanto, quanto mais existirem, melhor para todos. “E quanto mais a população entender a importância de cada um deles, maiores são as chances de mais parques serem criados”, completa Mantovani. Para incentivar as pessoas a freqüentar mais os parques da cidade, a prefeitura de São Paulo disponibiliza em seu site informações do Mapa Verde, o guia dos parques municipais.

* Karina Miotto é jornalista em São Paulo, colunista de meio ambiente da revista Ragga, de Belo Horizonte, e autora do blog Eco-Repórter-Eco

Leia também

Podcast
22 de novembro de 2024

Entrando no Clima#41 – COP29: O jogo só acaba quando termina

A 29ª Conferência do Clima chegou ao seu último dia, sem vislumbres de que ela vai, de fato, acabar.

Manguezal na maré baixa na Ponta do Tubarão, em Macau (RN). Foto: Alex LN / Creative Commons
Salada Verde
22 de novembro de 2024

Supremo garante a proteção de manguezais no país todo

Decisão do STF proíbe criação de camarão em manguezais, ecossistemas de rica biodiversidade, berçários de variadas espécies e que estocam grandes quantidades de carbono

Reportagens
22 de novembro de 2024

A Floresta vista da favela

Turismo de base comunitária nas favelas do Guararapes e Cerro-Corá, no Rio de Janeiro, mostra a relação direta dos moradores com a Floresta da Tijuca

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.