A barca lotada que sai de Mangaratiba às 8 horas da manhã em um sábado de céu azul e calor com destino à Vila do Abraão, em Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro, indica que o dia será de muito trabalho para os meninos da Brigada Mirim. Um grupo de 43 jovens entre 14 e 18 anos que ajuda a manter preservada a ilha mais famosa e visitada do litoral fluminense.
O projeto Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande foi criado em 1989 com o apoio de diversos empresários que tinham casas na região e desejavam proteger o local do crescente aumento de turistas interessados em recantos como a praia de Lopes Mendes, eleita uma das 10 mais bonitas do mundo. Hoje, cerca de 150 mil turistas nacionais e estrangeiros aportam no cais da Vila do Abraão a cada verão. “A maioria fica o dia todo. Faz trilhas, mas quebra galhos de árvores e destroem o entorno. No fim da tarde, o lixo fica inteiro aqui. Eles vão embora e quem arca com os danos somos nós, os moradores”, descreve Rodrigo de Oliveira Chagas, ex-brigadista de 26 anos que supervisiona o trabalho da brigada.
Os meninos se dividem em dois turnos de três horas diárias e somam esforços para manter a ilha em que moram preservada. Quando chegam as escunas e as barcas apinhadas de turistas, eles distribuem folhetos de educação ambiental em português e sacos plásticos para o lixo. Ainda assim, o passo seguinte é percorrer as trilhas mais freqüentadas e recolher tudo que é jogado no caminho. Só no percurso até a praia Preta, a 10 minutos a pé do centro de Abraão, foram necessários cinco sacos de lixo de 50 litros para colocar todas as garrafas de vidro, plásticos de sacolé e folhas arrancadas encontradas no trajeto. Todo o resíduo é enviado diariamente por barco ao Aterro de Angra dos Reis, no continente. E apenas as latas de alumínio são separadas para reciclagem.
Os brigadistas também reflorestam as encostas da ilha e ajudam a protegê-las da especulação imobiliária. Em fevereiro, a companhia Vale do Rio Doce doou três mil mudas para o viveiro do projeto e prometeu modernizá-lo. “O viveiro, no momento, é apenas um depósito de mudas. Lá, diariamente manejamos e regamos as plantas para usá-las no reflorestamento das áreas degradadas”, diz Rodrigo. As encostas das praias Preta e Lazareto, por exemplo, já receberam 300 novas mudas de espécies nativas da região. O reflorestamento foi feito pela brigada com a ajuda de um engenheiro florestal concedido pela subprefeitura de Ilha Grande.
Outra atividade do grupo é a Fazenda Marinha. A ONG Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía da Ilha Grande (IED-BIG) montou o Projeto de Repovoamento Marinho (POMAR), inspirado pela quase extinção do molusco nativo da região Coquille Saint Jacques (Nodipecten nodosus), também conhecido como vieiras. A organização montou um laboratório de produção de sementes de Coquilles e doou uma fazenda marinha com vinte mil sementes para a Brigada. A fazenda fica na praia do Abraãozinho e sofre manutenção diária por parte dos brigadistas, responsáveis por garantir que as vieiras cresçam em segurança até atingirem o tamanho ideal para a comercialização.
A cada dois meses, o IED-BIG recolhe de 10 a 15 sementes para monitorar a qualidade e observar se elas estão adequadas para a alimentação humana. Como se tratam de animais filtrantes, se a água estiver contaminada, os coquilles também estarão. “O coquille é nativo desta região, mas foi dizimado pela pesca predatória. Neste espaço e no entorno, a vida marinha voltou porque não há navegação nem pesca predatória”, conta Luiz Henrique Lima, diretor administrativo da Brigada. Segundo ele, a presença das vieiras atraiu para a costa da Ilha Grande outros tipos de mexilhões, ostra e camarão.
Mas além de todas essas atividades, os brigadistas têm uma outra função essencial na Ilha: servir de exemplo para os outros moradores, entre eles, familares e amigos. Segundo o sargento de Matos, do destacamento de Polícia Florestal da Vila do Abraão, os moradores são responsáveis por uma parcela significativa de degradação da Ilha, o que dificulta a sua preservação. “As nossas ações acontecem baseadas nas denúncias que recebemos, mas elas são poucas. Os moradores que poderiam ajudar muitas vezes não o fazem porque são eles próprios que degradam”, conta. Os brigadistas, que não têm poder de fiscalização, ajudam a polícia a zelar pelas belezas naturais da Ilha Grande.
*Felipe Lobo é publicitário, calouro de jornalismo e o mais novo estagiário de O Eco.
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