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No maior evento sobre conservação no Brasil, o levantamento de problemas que envolvem as unidades de uso direto é um dos assuntos mais recorrentes nas palestras e pelos corredores do V Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, realizado esta semana em Foz do Iguaçu. Mas questionar a eficiência dos próprios parques nacionais como estratégia para proteger a natureza foi tarefa do biólogo John Terborgh, do alto de seus mais de 35 anos de pesquisa em ecologia tropical.
O professor de ciências ambientais da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, abriu o terceiro dia de palestras em Foz do Iguaçu com uma provocação. A bela imagem de um parque nacional canadense, estabelecido há mais de 100 anos, enganou quem achava que a região contribui substancialmente para a conservação da biodiversidade global. Por lá, a diversidade de espécies não é muita. Insignificante se comparada às florestas tropicais. E a extensão de proteção desses parques na América do Norte deixa a desejar. Enquanto existe um esforço mundial para proteger pelo menos 10% dos territórios dos países, os Estados Unidos contribuem com apenas 1.5% de sua área.
Isso não é nada perto do que as nações de regiões tropicais protegem, ou dizem proteger. A Venezuela é, por incrível que pareça, o melhor exemplo que se conhece, com 46% do território dentro de áreas protegidas. Enquanto em países ricos do hemisfério norte, a fórmula dos parques nacionais funciona movida a recursos financeiros e simpatia dos milhares de visitantes, nos países tropicais, as unidades, mesmo relativamente numerosas, são mal distribuídas e gerenciadas, o que as impede de cumprir seu papel na conservação.
“Países que têm perturbações sociais graves como crescimento populacional acelerado, pobreza, desemprego, educação deficiente e outros problemas ficam impossibilitados de cumprir os desafios da proteção dos parques”, diz. O pesquisador veterano admite que existem diversos casos em que essas áreas são bem administradas. Mas em outros a criação de parques em países em desenvolvimento é sim uma experiência fadada ao fracasso. “Parques não podem sobreviver sem equipes e orçamentos, coisa que muitos deles nunca viram”. Nessas situações, a impunidade impera. “Veja a situação. Em alguns locais da América Latina, guarda-parques não são autorizados a sequer andar armados e prender infratores. Mesmo quando atividades ilegais são descobertas, não há nada mais que ele possa fazer senão reportar o caso à polícia, que freqüentemente não considera violações nessas áreas como questões importantes.”
Mais exemplos de parques praticamente abandonados pelo poder público foram apresentados à platéia que lotou o auditório principal do congresso nas primeiras horas da manhã. Na Guatemala e em Bornéu as pressões humanas os descaracterizaram completamente. “Não existe mais diferença entre áreas protegidas ou não”, disse, ao analisar as imagens da abertura de áreas em um parque asiático de 1999 a 2004. Casos de ameaças de morte sofridas por quem se dispõe a cuidar dessas áreas, abertura de estradas, e incêndios criminosos em áreas protegidas foram apenas algumas das situações mais recorrentes. Na platéia, que pouco se manifestou durante a palestra, só uma impressão predominou: déjà vu.
Mas nos últimos momentos, Terborgh sugeriu como se resolve essa situação. “Minha mensagem é que os parques não vão sobreviver sem vontade política dos governos em fortalecer as instituições que apóiam essas áreas”. E aí, a pergunta que obrigatoriamente é feita a qualquer palestrante do congresso repetiu-se, a respeito da fragmentação do Ibama , coisa que, sem ter acompanhado o desenrolar dessa história aqui no Brasil, Terborgh não quis comentar.
Para que os parques não fiquem expostos a um “tsunami humano”, como falou Terborgh em sua palestra, ele propôs uma estratégia que devia nunca sair dos objetivos de quem cuida institucionalmente dos parques. Isto é, quando priorizados politicamente. “Visitar um parque nacional é sempre algo chocante. Como é que as pessoas vão aprender sobre natureza se não podem entrar?”, encerrou.
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