A população do Reino Unido está preocupadíssima com o aquecimento global, enquanto os brasileiros pouco se interessam no problema. Certo? Errado. Segundo uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira pelo banco HSBC (a primeira sobre o assunto realizada em nível mundial), os países em desenvolvimento estão muito mais engajados do que os desenvolvidos no combate ao aquecimento global. Ao menos, se não seus governos, seus habitantes. Os brasileiros estão em terceiro lugar em termos de inquietação (58% da população disseram que o aquecimento e a forma como reagimos a ele é um dos seus principais motivos de preocupação), atrás apenas de Índia (60%) e México (59%). O Reino Unido, em compensação, aparece em último lugar, com 22%.
O “Índice HSBC de Confiança Climática 2007” ouviu nove mil pessoas em nove países (além dos citados, Alemanha, China, França, Hong Kong e EUA) até abril deste ano. E levou em conta quatro fatores: preocupação, confiança de que as pessoas responsáveis por combater o problema estão agindo, compromisso pessoal em contribuir para resolvê-lo e otimismo quanto à sua solução. A pesquisa encontrou uma variação tremenda nas reações à questão. “A figura convencional, de economias desenvolvidas comprometidas e de em desenvolvimento relutantes, é um mito. Se essa figura procede no nível de governos, o oposto é real no que diz respeito às pessoas”, diz o relatório.
Dos quatro pontos abordados, a confiança no combate às mudanças é o que alcançou menores índices entre os entrevistados. Com exceção da China (46%) e Hong Kong (38%), as pessoas em geral avaliam que quem deveria estar fazendo algo para solucionar o problema não está arregaçando as mangas. Sessenta e oito por cento das pessoas acham que a responsabilidade por liderar os processos de mitigação é dos governos. Mas apenas 33% acham que eles estão assumindo isso. O Reino Unido, de novo, obteve o índice mais baixo: apenas 5% acreditam no que está sendo feito.
O terceiro tópico analisado apresentou as menores variações de resultado entre as nove economias pesquisadas. O Reino Unido desaponta uma vez mais ao ocupar a última colocação no ranking de comprometimento pessoal com o tema. De acordo com o documento do banco, Brasil e Índia lideram o ítem, com 47 a cada cem entrevistados que dizem se adequar às necessidades ambientais em seus cotidianos. A maioria dos habitantes (58%) de todas as nações do estudo disse que aceitaria mudar o estilo de vida para contribuir com a mitigação das mudanças climáticas, mas o interesse de disponibilizar mais tempo e dinheiro para isso fica em segundo plano (45% e 28%, respectivamente). Fora isso, 42% dos entrevistados se mostraram insatisfeitos com a sua conduta perante a questão.
Desesperança
Mas, acreditar em solução a partir das medidas até agora adotadas, ninguém acredita. O otimismo da população anda lá embaixo. A começar pelos países desenvolvidos: a França aparece com 5% de credulidade e o Reino Unido com 6%. Mas aqui não há diferença muito grande em relação às economias menores. Os habitantes da Índia, por exemplo, aparecem como o povo mais positivo (com 45% dos votos), enquanto o Brasil ficou na quarta posição. O mais curioso, no entanto, é a China. Logo após ser considerada a pátria que mais lança carbono na atmosfera, ao superar os Estados Unidos, os chineses parecem fazer uma mea culpa: estão em segundo lugar no quesito esperança.
A pesquisa deixa um recado, principalmente para os governos das economias que fizeram parte da compilação de dados: para os seus autores, os consumidores estão à espera de ações efetivas por parte de seus mandatários. “Mesmo na Índia, onde a crença no poder coletivo das ações individuais é mais forte e onde há menor tendência de se delegar responsabilidade ao governo, 59% das pessoas acham que ele deveria exercer um papel de liderança, comparado com apenas 27% dos indivíduos”, diz o documento. E as empresas não foram esquecidas na conclusão final do documento de vinte e quatro páginas. Apesar de não terem sido mencionadas por um grande número de pessoas como habilitadas à vanguarda do processo, elas podem promover duas ações em favor do cuidado ambiental: vender produtos mais eficientes pelo mesmo preço e comunicar passo a passo todas as posturas tomadas com braços sustentáveis.
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