Além de tais formações, a região apresenta diversas nascentes e áreas alagadas, o que propicia o crescimento de uma outra vegetação semelhante às veredas típicas da região central – os buritis ou buritiranas, um tipo de palmeira. Apesar de a paisagem ser relativamente conhecida, tal porção dos campos, localizada no extremo sul do estado do Amazonas, divisa com Rondônia, ainda é pouco estudada por pesquisadores. O que se sabe é que a área possui elevada “heterogeneidade ambiental”, conferindo a ela grande importância biológica.
A presença de savanas isoladas no bioma amazônico é considerada uma evidência dos ciclos climáticos durante a história geológica da floresta. Uma das teorias para a presença de enclaves como este diz que, durante os períodos frios e secos, os campos (cerrados) ampliaram sua distribuição, enquanto as matas retraíram, formando manchas florestais. Nos períodos mais quentes e úmidos, as florestas ampliaram sua distribuição e os campos recuaram, sendo que algumas manchas foram isoladas pela floresta.
A movimentação do solo, propiciada pelos ciclos climáticos e fluviais da região, deram origem a um terreno cuja camada mais superficial é arenosa e rasa, de baixa fertilidade e muito suscetível à erosão. “Quando o solo é mais argiloso, em um tom avermelhado devido à presença de ferro, há mais nutrientes, o que propicia o crescimento e dá sustentabilidade para a floresta”, explica Eloiza Della Justina, geógrafa da Universidade Federal de Rondônia.
Nesta breve aula de geologia, no entanto, uma questão ficou sem resposta: Quem chegou primeiro à região, o Cerrado ou a floresta? “Esta pergunta é para ser respondida em um pós-doutorado”, brinca a pesquisadora. (Texto segue abaixo do slideshow)
Riqueza animal
Tão intrigante quanto saber se foi a floresta que invadiu as áreas de campos ou o contrário é descobrir a procedência da população animal da região. Isso porque, por lá, foram identificadas espécies endêmicas de Cerrado, como o joão-bobo (Nystalus chacuru), o tapaculo-de-colarinho (Melanopareia torquata) e a cigarra-do-campo (Neothraupis fasciata), por exemplo.
Para o ornitólogo José Flávio Cândido, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), se a teoria sobre retração e expansão da floresta está correta, é possível que as espécies encontradas por lá já apresentem alguma modificação genética em relação a seus ancestrais. Isto é, que o isolamento tenha criado sub-espécies, ou mesmo novas espécies por ali. “Seria interessantíssimo coletar alguns bichos e fazer avaliação genética pra determinar se existe mesmo essa separação e se conseguimos detectar alguma variação genética nesses grupos”, diz o pesquisador.
Grande porção daquela formação fica dentro do Parque Nacional dos Campos Amazônicos, criado justamente para tentar preservar esses enclaves. Entre os dias 10 e 30 de novembro, trinta pessoas, entre pesquisadores e grupo de apoio, percorreram trechos da unidade, para realização de seu Plano de Manejo. Por isso, pesquisadores vindo de longe, como o ornitólogo José Flávio Cândido, do Paraná, estavam reunidos com outros da região, a exemplo da geógrafa Eloiza Della Justina.
O objetivo geral da expedição foi entender como anda o estado de conservação e a fragilidade dos diversos ambientes do parque nacional. Da avaliação, devem surgir ações, principalmente de conservação, proteção e manejo das pressões humanas de dentro e do entorno da unidade. A elaboração do documento está em curso e, entre os pesquisadores, uma opinião já é unânime: a variedade de espécies típicas do Cerrado e a grande quantidade de endemismos (espécies únicas de animais e de plantas) justificam mais ações de preservação para a área protegida federal.
Além de tudo, a velha questão da origem dos campos amazônicos, por enquanto, permanece sem resposta, como a alegoria do ovo e da galinha…
A próxima reportagem sobre o Parque Nacional dos Campos Amazônicos, que será publicada no dia 26 de dezembro, explica o novo modelo de Plano de Manejo adotado na unidade e as principais pressões antrópicas a que ela está submetida. Confira!
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