Anda sonhando com uma TV de tela plana? Seu último objeto de desejo é um iPhone? Pois é, melhor pensar duas vezes ou pelo menos se lembrar dos números apresentados nesta semana pela Agência Internacional de Energia (AIE). O time das Nações Unidas mostrou em um estudo que o consumo de energia por aparelhos eletrônicos, como computadores, celulares, tocadores de MP3 e televisores já chega a 15% do total utilizado nas residências de 30 países pesquisados. Isto representa um aumento de 7% em relação aos anos 1990. Para piorar, a tendência é de crescimento desenfreado.
De acordo com o relatório “Engenhocas e Gigawatts”, o consumo de energia por eletroeletrônicos deve crescer 250% até 2030, principalmente em função da alta demanda em países em desenvolvimento como China, Índia e Brasil. Isso vai exigir uma adição de 280 GW de potência ao sistema de geração, ou quase trinta novas usinas de Itaipu. Isso sem falar nas emissões de carbono, que segundo a AIE podem dobrar.
“O consumo das residências ainda é inferior ao da indústria, mas já pode ser comparado a alguns grandes setores produtivos”, explica o autor principal do estudo, Paul Waide, analista sênior da agência. Ele lembra, ainda, que o relatório só olhou para os aparelhos eletroeletrônicos usados dentro de casa, excluindo assim escritórios e centros de dados, o que provavelmente elevaria ainda mais as engenhocas no ranking dos maiores consumidores de energia.
A razão principal pela qual celulares, computadores e iPods passaram a contribuir para o aumento do consumo de energia é a facilidade de acesso. A queda nos preços dessas tecnologias fez com que, ao invés de um telefone fixo, uma casa tenha agora um aparelho celular por membro da família. O mesmo se aplica às câmeras digitais, laptops, videogames e outras bugigangas. Mais do que isso, subiu também o tempo dedicado por cada família a esses “brinquedos”. Um computador permite, por exemplo, “surfar” na Internet, trabalhar; transforma-se em aparelho de som ou videogame. O caso da televisão de tela-plana (veja arte abaixo) tornou-se o melhor caso de estudo para a AIE. Quando lançada, as previsões de consumo e preço eram bem mais conservadoras.
Futuro alternativo
A agência sustenta que é possível impedir que o consumo desenfreado de engenhocas eletroeletrônicas torne-se um beco sem saída. Com tecnologias já existentes e mais econômicas, como lâmpadas tipo OLED (Diodos Orgânicos de Emissão de Luz, na sigla em inglês), por exemplo, é possível obter até 30% de redução no consumo sem custos adicionais. Com a aplicação da melhor tecnologia disponível em todos os aparelhos, poderia obter-se um corte superior a 50% no consumo de energia.
Waide acredita que é papel dos governos estimular a mudança no setor de eletroeletrônicos. Segundo ele, muitos dos aparelhos domésticos que receberam atenção governamental no passado tiveram redução significativa no consumo de energia nos últimos anos. Isso ocorreu principalmente na linha branca, como refrigeradores, máquinas de lavar e secadoras. No caso de celulares e TVs, os avanços foram tão rápidos que os governos não conseguiram acompanhar a regulação. “É preciso mais do que criar padrões para um produto, criar padrões para aplicações. Por exemplo: quanto de energia deve gastar uma tela digital, ou um dispositivo de áudio, assim por diante”, explicou Waide, em entrevista por telefone de seu escritório, em Paris.
Este tipo de regulação pública é o que fará diferença para o consumidor, acredita o pesquisador da AIE. O exemplo da linha branca mostrou que, na hora de comprar, uma pessoa identifica o produto que é mais eficiente em consumo de energia com economia dentro de casa. Portanto, transparência na informação é essencial para orientar a compra.
Em desenvolvimento
Em termos gerais, observa Waide, o Brasil é considerado um país com consumo de energia moderado, graças ao seu clima ameno, que evita o uso de calefação. Entre os aparelhos eletroeletrônicos estudados no Brasil, a agência destacou o rápido crescimento de televisores. A média de TVs por domicilio dobrou em 15 anos, passando de 0,7 para 1,5 aparelho.
Os balanços do brasileiro IBGE também confirmam um crescimento acentuado do consumo de outros bens. O número de computadores, passou de 6,7 milhões em 2002 para 15 milhões de em 2007, data da última pesquisa. No entanto, o atual consumo das residências continua inferior ao nível de 2001, quando o país enfrentou o Apagão.
China e Brasil, diz Waide, mesmo com consumo explosivo, serão capazes de domar a demanda de energia, pois não seria difícil impor regras para a importação de produtos com maior eficiência energética com seus imensos mercados consumidores. “As grandes nações em desenvolvimento têm sido bastante pró-ativas em propor medidas”, afirma o pesquisador. O que ainda não está claro, sustenta a pesquisa da AIE, é qual será o limite para o consumo destes bens, tanto no Brasil como no mundo.
Será necessária a construção de mais trinta itaipus para abastecer à demanda?
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