Os frigoríficos afirmam que deixaram de comprar gado de 221 fazendas localizadas dentro de terras indígenas, unidades de conservação ou próximas a áreas recém-desmatadas. De acordo com as empresas, outras 1787 propriedades estão sendo averiguadas e mais de 12 500 já teriam passado pelo processo de georreferenciamento – este número representaria toda a cadeia de fornecedores diretos da região.
Com esta atitude, demonstram cumprir uma parte do acordo assumido pelo desmatamento zero na Amazônia. “Isso sinaliza que a situação está mudando de fato. Estes frigoríficos entenderam o recado: ou respeitam seus compradores, ou vão perder contratos. Hoje, manter uma postura ambiental correta faz parte do negócio”, afirma Marcio Astrini, da Campanha da Amazônia do Greenpeace.
Astrini ressalta a importância do papel desempenhado pelos supermercados na cadeia de produção e consumo de carne. “Pequenos frigoríficos que não aderem ao desmatamento zero podem continuar vendendo para as grandes redes. Se elas não tiverem uma postura mais enérgica, vão virar receptadoras de produtos oriundos do desmatamento da Amazônia”, explica. E isso, como já afirmou Astrini, já não passa despercebido pelo mercado consumidor.
Para tornar o processo mais eficiente, é preciso que todas as propriedades da Amazônia tenham o Cadastro Ambiental Rural (CAR), pois esta ferramenta possibilita, entre outras coisas, o monitoramento por satélite e a descoberta de novos desmatamentos. Os dados de fazendas registradas são públicos e isso garante muito mais transparência, mas ainda há muito a ser feito neste sentido: no Mato Grosso, detentor do maior rebanho do País, menos de 5% das fazendas estão cadastradas. No Pará, este número chega a meros 9%.
Em junho deste ano, o Ministério Público Federal lançou a campanha Carne Legal, pelo consumo consciente de carne bovina. Um dos objetivos é fazer com que os consumidores passem a cobrar dos locais de compra a origem da carne vendida.
De extrema relevância para a sociedade, a campanha tem sido criticada por Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Ela afirma que seria impossível para a população certificar-se da origem da carne que consome.
Em uma nota pública, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) afirma que “a ação popular ajuizada contra a campanha é um grave retrocesso nos grandes avanços já obtidos (em busca de) uma saída para conter o desmatamento, o trabalho escravo e outros crimes graves associados à pecuária ilegal. Este tipo de intimidação não desviará os Procuradores da República do cumprimento de seu dever constitucional de tutela dos interesses da sociedade”. Quem assina a carta é Antonio Carlos Alpino Bigonha, procurador regional da república e presidente da ANPR.
Para conhecer a campanha Carne Legal, clique aqui.
Para saber mais
Os dados anunciados semana passada pelos frigoríficos vieram um ano após a publicação do relatório A Farra do Boi, do Greenpeace.
Leia reportagem Governo aliado da destruição na Amazônia
No final de 2008, ((o)) eco publicou a reportagem A Amazônia está virando bife, que explica como estava a situação da produção de carne na Amazônia antes do relatório da organização. Para ler a reportagem, clique aqui.
Infográfico
Você pode conhecer um pouco sobre o que explica este documento através do infográfico “A pecuária globalizada da Amazônia”
Leia também
2024 é o primeiro ano em que a temperatura média da Terra deve ultrapassar 1,5ºC
Acordo de Paris não está perdido, diz serviço climatológico europeu. Confira a galeria de imagens com os principais eventos extremos de 2024 →
Obra milionária ameaça sítio arqueológico e o Parna da Chapada dos Guimarães, no MT
Pesquisadores, moradores e empresários descrevem em documentário os prejuízos da intervenção no Portão do Inferno →
Soluções baseadas em nossa natureza
Não adianta fazer yoga e não se importar com o mundo que está queimando →