carros acendem farol (foto: Vandré Fonseca)
Manaus – A fumaça que cobriu Manaus no ano passado está de volta. Com a visibilidade prejudicada, o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes amanheceu nesta terça e quarta operando por instrumentos. A impressão é que uma densa nuvem de neblina baixou sobre a cidade, fazendo carros acenderem os faróis mais cedo. As queimadas que atingem principalmente o sul da Amazônia prejudicam também o ar em outras cidades da região, ainda mais próximas dos focos de calor.
O Mapa da Qualidade do Ar divulgado pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTec/Inpe) mostra que a nuvem de fumaça encobre boa parte das regiões Centro-Oeste e Norte do País, além de regiões da Bolívia, Peru e Equador. A fumaça, conforme a nota, interfere inclusive no regime de chuvas na região.
O texto explica que a fumaça é formada por uma alta concentração de material particulado fino, produzido a partir das queimadas. A nota alerta também para os perigos à saúde oferecidos pela fuligem. “Estas micropartículas são capazes de penetrar profundamente nos pulmões, provocar problemas respiratórios às populações das regiões atingidas, e ainda chegar a corrente sanguínea”, destaca.
Ar pesado em Apuí
Em Apuí, sul do Amazonas, onde um grande incêndio demorou dois dias para ser controlado, o “ar está pesado”, segundo relato de correspondente da Rede Amazônica no município, Antônio Jocemar. O município é o campeão amazonense de queimadas, 110 focos no dia 16 de agosto. Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC) tiveram aeroportos fechados devido à falta de visibilidade.
Manaus está distante da área com maior intensidade de queimadas, por isto o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) quer mais informações sobre a origem da fumaça que cobre a capital do estado. O Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) vai fazer um estudo para verificar a origem das partículas que poluem a cidade. Um sobrevoo no entorno da capital, para observar queimadas não detectadas pelo satélite, também deve ser realizado.
O mais o mais provável é a fumaça que cobre Manaus venha mesmo de centenas de quilômetros de distância e seja um reflexo de uma intensa estação de queimadas no sul da Amazônia. “A princípio, tem bastante queimadas, que atingem metade do Pará, há muitos focos em São Félix do Xingu (onde foram detectados 1487 focos de calor no dia 16 de agosto) e Itaituba (140 focos no mesmo dia), e a situação do vento favorece”, afirma o meteorologista Raffi Agop, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec/ Inpe).”Acredito que esta situação esteja favorecendo sim (a fumaça em Manaus)”, completa.
O pior dos últimos anos
Nas passagens entre os dias 16 e 17 de agosto, satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectaram 9.946 focos de calor nos estados que formam a Amazônia Legal (incluindo Mato Grosso e Maranhão). A situação é a pior dos últimos anos, segundo Raffi Agop. “Não queimava assim desde 2004. Triplicou o número de queimadas em relação ao ano passado”, calcula.
O clima seco na região, com uma estiagem mais intensa do que em anos anteriores, colabora com as queimadas e incêndios. “Esta massa de ar seco está sendo observada há bastante tempo e deve continuar por mais algum tempo, o que vai proporcionar focos de queimadas pelo menos até o final de semana”, prevê o meteorologista José Felipe Farias, também do CPTec.
Há regiões onde não chove a 90 dias, segundo os meteorologistas do Cptec. Em Rondônia, por exemplo, a umidade do ar pode chegar a 20 por cento, um nível crítico para a saúde humana. A previsão indica que o clima indica que as condições favoráveis às queimadas permanecem pelo menos até o final da semana, segundo Farias. Mapas do CPTec indicam risco crítico para fogo em todo o sul da Amazônia, desde o Oeste do Acre até o Maranhão.
A fumaça das queimadas torna o sul da Amazônia uma região mais poluída do que que grandes áreas industriais. A concentração de Dióxido de Carbono chegou a ficar 5 vezes maior na Amazônia do que em São Paulo, segundo dados do Inpe.
100 quilômetros de queimadas
A área de maior concentração de queimadas agora chega a regiões onde o fogo não era tão intenso em anos anteriores, como o estado do Tocantins, onde a estiagem também está muito forte. “São queimadas de cinquenta, sessenta, cem quilômetros de extensão na região do Rio Araguaia, perto da divisa com Mato Grosso e Goiás”, conta Raffi Agop.
O clima também está mais seco no que em anos anteriores, mas sem a ajuda do homem, o fogo não seria tão intenso. “É bom lembrar, que mesmo em ano seco, se no tiver uma fonte, não tem fogo”, afirma Oswaldo de Carvalho Júnior , pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). O pesquisador atua em Canarana, interior do Mato Grosso, onde pode ver a nuvem de fumaça no horizonte. “No ano passado, não tinha isto”, lembra.
Para ele, não existe outra explicação para o aumento das queimadas a não ser a estiagem. Oswaldo de Carvalho Júnior lembra que no ano passado foi feita uma grande campanha contra as queimadas, que diminuiu o fogo na região. A campanha continua este ano e até a proibição para a queima foi antecipada, de acordo com ele, mas os focos de calor aumentaram.
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