Andrés Álvaro Rodriguez é um tradutor público uruguaio de 53 anos que um dia, há cerca de cinco anos, resolveu unir a paixão pela fotografia, o prazer proporcionado pela bicicleta e as lembranças da infância em uma aventura. Ele percorreu cerca de 200 quilômetros em três etapas, todas elas pedalando, pela linha imaginária que separa (e une) Brasil e Uruguai. “De carro, o caminho poderia ser feito em dois dias, ou em três, se quisesse aproveitar bem. Ou em uma semana, se você quiser desfrutar plenamente. Mas a vantagem de fazer o percurso de bicicleta, e isso eu não troco por nada, é o contato direto com a natureza e a facilidade para tirar boas fotos”, explica Rodriguez. E ele lembra que alguns trechos desse caminho quase inóspito não podem sequer ser feitos de carro ou ônibus, só mesmo de bicicleta ou a cavalo. “Alguns trechos do caminho estão em péssimo estado de conservação, pois quase não transitam pessoas. Não há mais terra batida e só restou a grama”, conta.
O fascínio pela região nasceu na infância, quando os pais o levavam de ônibus para a região fronteiriça. Eles saíam ainda de madrugada de Rivera para ir à casa do avô, a 75 quilômetros da cidade. “Quando o ônibus entrava na linha [fronteiriça], para mim, era como um mundo mágico. Todos aqueles marcos, todos diferentes. Eram como soldados, vigilantes de um exército imaginário; ou pareciam magos… o Papai Noel. Variava a cada situação”, conta. Os marcos a que se refere são algumas das 1.022 estruturas de pedra cravadas na terra pelos então donos dos territórios entre 1853 e 1943 e que tentam determinar a fronteira seca entre Uruguai e Brasil. Rodriguez faz alusão a elas como “árvores de pedras” no vídeo que produziu mostrando a paisagem da região percorrida (veja no fim do texto).
Na verdade, foi esse exército imaginário de concreto que o inspirou. Rodriguez percebeu que, ao redor de cada um dos marcos, havia uma paisagem diferente, particular, e que havia outras tantas que ele queria muito conhecer e registrar. “E assim comecei. E gostei. Mostrei a amigos e todos diziam a mesma coisa: ‘Ah, você precisa fazer um livro, uma exposição’”. Inicialmente, ele resolveu compartilhar os registros em suas redes sociais na internet e no Youtube. Tal foi a repercussão das imagens e histórias em todo o Uruguai que ele pretende lançar em breve o livro.
Durante o caminho, ele pediu abrigo e ganhou amigos. “Pessoas muito amáveis, que são familiares para mim desde a infância”. E também colecionou pequenos sustos. “Fui picado por uma lacraia e dei de cara com uma víbora venenosa”. Mas nada que tirasse dele a vontade de continuar.
Leia também
Manguezais da Baía de Sepetiba passarão por ação de limpeza
Com participação de caiçaras da Ilha da Madeira, projeto LimpaOca será realizado durante o período de defeso do caranguejo-uçá no Rio de Janeiro →
Mais da metade dos maiores municípios do país não possuem secretaria ambiental
Levantamento do De Olho nos Ruralistas mostra que em 30% dos municípios gigantes o tema ambiental é tratado junto com agro, mineração e turismo →
Conciliação do marco temporal continuará, mesmo sem representação indígena, decide Gilmar Mendes
Comissão de conciliação prosseguirá 'com quem estiver à mesa', decide ministro. Principal representação indígena se retirou em protesto por ausência de paridade →