A região do Jalapão possui a maior área de preservação do bioma Cerrado. Unindo o Parque Estadual do Jalapão (PEJ), a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, o Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba e as duas Áreas de Proteção Ambiental (APA) do Jalapão e da Serra de Tabatinga, são mais de 2,5 milhões de hectares destinados a proteção e preservação.
|
Entre os problemas estão a contratação de funcionários “fantasmas”, a mudança de gerência por motivos eleitorais e a lotação de funcionários ligados ao ex-prefeito de Mateiros, Antônio Alves da Silva, mais conhecido como Martins, aliado a Siqueira.
Condenado pelo Ministério Público Federal (MPF) por não prestar contas de recursos destinados à merenda escolar, Martins é servidor contratado da agência ambiental do Estado, o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins).
Ele foi designado para trabalhar no parque em julho deste ano como “homem de confiança” do governador. Sua missão: limpar o histórico “negativo” do PEJ e a imagem de Siqueira, que acredita não ter ganhado nas urnas na região justamente por conta da criação do Parque. A primeira medida de Martins foi colocar pessoas de “sua confiança” no PEJ, a começar pela gerência.
Conservação com cesta básica
O “não” dado à profissional rendeu a demissão de Rejane Nunes e o governo indicou para seu lugar o tenente coronel da Polícia Militar Valdeson José Tavares Fontoura, filiado no PSDB, mesmo partido do ex-prefeito e do governador Siqueira.
Numa entrevista por telefone, Fontoura declarou que foi indicado pelo ex-prefeito Martins para assumir a gerência. Depois de trabalhar cinco anos na polícia ambiental do Estado, o tenente se diz preparado para gerir a UC.
Questionado sobre as ações que o ex-prefeito realiza frente ao parque, ele contou que Martins não é técnico, mas que seu trabalho é “mais uma estratégia política”. “Ele busca os problemas junto à comunidade e leva as informações para a presidência para que sejam resolvidos”, explicou.
Sobre o Plano de Manejo que norteia as ações da unidade, o gerente disse apenas que procura respeitar da melhor forma possível. “Estamos colocando em prática com respeito”, concluiu.
O Secretário de Turismo da cidade de São Felix e membro do Conselho Consultivo do Parque Estadual do Jalapão, Carlos Israel Ribeiro, considerou “injusta” a atitude de Martins. Segundo ele, o ex-prefeito, que também tem duas filhas nomeadas no Naturatins, teve intenções eleitorais ao tirar Rejane do PEJ. A suspeita é que o ex-prefeito que reponde na Justiça Federal pretende voltar ao poder público na sombra de outro candidato, e ao que tudo indica, este candidato seria o tenente Fontoura. O atual gerente do Parque, nega. Diz que já recebeu “muitos convites” para se candidatar.
Oito trocas em seis anos
Desde sua criação em 2001, o PEJ já teve nove gerentes, sendo que oito mudanças ocorreram somente no ano de 2006 pra cá.
O troca-troca certamente dificultou a continuidade das ações desenvolvidas na UC, como a fiscalização para o controle do capim-dourado, matéria prima de artesanato que é símbolo da região; prevenção e combate a queimadas irregulares; educação ambiental e apoio à pesquisas.
Segundo o Naturatins, órgão responsável pelas UC do estado, 22 servidores (assistentes, inspetores de recursos naturais, guarda-parques e brigadistas temporários) trabalham no parque hoje, sendo que destes, apenas um é biólogo.
De acordo com o presidente do instituto Alexandre Tadeu, o cargo de gerência das UC é de livre-nomeação do governador, e que obviamente “se esta pessoa tiver conhecimento da área ambiental, auxilia bastante”, disse.
Uma das discussões que corre no órgão hoje é a regulamentação dos territórios quilombolas sobrepostos às unidades de conservação na região. A situação já gerou uma série de conflitos entre a gestão do PEJ e os moradores da área.
Porém, segundo Tadeu, o governo do Tocantins esta adiantando as discussões para que a limitação do Parque seja concluída o quanto antes, dentro de um consenso com estas comunidades.
{iarelatednews articleid=”21100,20477,24962,24875,24821,21521,21313,20605″}
Leia também
Garimpos ilegais de ouro podem emitir 3,5 toneladas de carbono por hectare e concentrar mercúrio no solo
Pesquisadores da USP e colaboradores analisaram amostras de áreas de mineração em quatro biomas, incluindo Amazônia →
Esperançar com Arte e Cultura: Um chamado à ação climática
Uma fotografia de uma floresta em chamas, um documentário sobre povos indígenas ou uma música que fala de destruição ambiental são mais que expressões artísticas; são convites à ação →
Fim dos lixões, uma promessa reciclada
A implementação de uma política ambiental robusta, focada no encerramento definitivo dos lixões, não é apenas uma imposição normativa, mas um imperativo ético e estratégico →