Tem-se dito que o controle do desmatamento na Amazônia é fundamental para deter as mudanças climáticas, já que a floresta contém aproximadamente 100 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente a mais de 10 anos de emissões globais de combustíveis fósseis. Por outro lado, o aumento na temperatura do planeta tem afetado a Amazônia. Nos diferentes países da região já se registram modificações nos ciclos de chuva que parecem estar ligados às mudanças do clima com prejuízos à fauna, flora e modos de vida da população local.
Diversos cientistas falam sobre estas transformações, agravadas por fatores como queimadas e avanço da fronteira agrícola. A região corre o risco de perder completamente suas florestas e se converter em savana, com impactos sobre a biodiversidade. Na Colômbia, as temporadas de seca são cada vez mais frequentes e extensas. Em localidades dependentes de rios, isso significa problemas de transporte, escassez de alimentos, comunidades sem comunicação e doenças.
Jader Muñoz, geólogo e professor da Universidade da Amazônia em Florencia (Caquetá) explica que em sua região chove menos, mas com mais força e que os deslizamentos nas zonas montanhosas aumentaram por causa do desmatamento. “O clima está louco”, diz Octavio Villa, sociólogo e também professor da universidade. “Com a alteração dos regimes de chuvas já não se sabe quando plantar, colher ou quando é tempo de caçar”, diz.
Uma região mais resiliente do que se pensava? Caso Brasil
Estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Met Office Hadley Centre do Reino Unido sobre os riscos das mudanças climáticas no Brasil indicam que para as próximas décadas existe o risco de uma mudança abrupta e irreversível em parte ou talvez em toda a Amazônia. Só nos últimos cinco anos ocorreram duas grandes secas e uma das piores inundações da região no país. Estes eventos afetaram a agricultura, o transporte, a energia hidráulica e a saúde pública.
No entanto, outro estudo publicado em janeiro de 2012 por pesquisadores brasileiros na revista Nature indica que a floresta poderia ser mais capaz de lidar e se adaptar às mudanças climáticas do que se pensava. Carlos Souza, um dos autores da publicação, faz uma ressalva. De acordo com ele, “esta resiliência poderia ser ameaçada pela superposição entre fenômenos climáticos naturais (como secas prolongadas), consequências das mudanças climáticas (secas mais frequentes e efeitos do El Niño mais intensos) e outros impactos gerados pelo homem (como as queimadas)”.
Ainda segundo a publicação, o aumento dos fenômenos El Niño (seca) e La Niña (chuvas) tem afetado especialmente o lado oriental da bacia amazônica. Com o aumento do desmatamento, as precipitações se reduzirão a nível regional e haverá uma tendência a diminuir a correnteza do rio Amazonas, o que poderá gerar mudanças na vegetação.
Ventos e secas no Peru
Ernesto Raez, assessor da Alta Direção do Ministério do Ambiente do Peru, afirma que embora não seja possível definir fenômenos climáticos específicos ligados às mudanças climáticas, determinados comportamentos do clima regional podem estar relacionados com as alterações do clima em todo o mundo. “Na Amazônia peruana existe um aparente incremento na frequência e intensidade das secas, que estão associadas aos incêndios florestais e diminuição do nível dos rios. A de 2005 foi a pior em 40 anos e houve outras intensas em 2007 e 2010. Além disso, os ventos frios da Patagônia que ingressam sazonalmente na Amazônia diminuíram em intensidade, mas aumentaram em frequência”, diz.
Equador, economia sob ameaça
A comunicação nacional sobre mudanças climáticas do Equador declara que, tal como aconteceu durante os últimos anos, entre 2009 e 2010 várias regiões desse país suportaram impactos sociais, econômicos e ambientais devido às secas e inundações. A falta de chuvas em 2010 motivou, entre fevereiro e maio, estado de alerta sobre a geração de energia elétrica em todo Equador.
Aumenta número de répteis na Bolívia
A comunicação nacional da Bolívia afirma que as frequentes inundações na região do rio Mamoré, um dos principais afluentes do Amazonas, têm incidido no aumento da população de répteis das localidades afetadas.
Vulnerabilidade na Guiana
Este país, com 75% de seu território na floresta, também é altamente vulnerável às mudanças climáticas. “Os impactos mais significativos são as condições de clima extremo, secas excessivas e chuvas intensas com inundações severas”, diz Robert Persaud, ministro de Recursos Naturais e Ambiente guianês. Em 2011 houve uma inundação que transbordou os rios Ireng e Branco, na fronteira com o Brasil, em níveis não registrados em 50 anos.
Leia também
COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas
Reunião não teve acordo por arcabouço global e vinculante de medidas contra secas; participação de indígenas e financiamento bilionário a 80 países vulneráveis a secas foram aprovados →
Refinaria da Petrobras funciona há 40 dias sem licença para operação comercial
Inea diz que usina de processamento de gás natural (UPGN) no antigo Comperj ainda se encontra na fase de pré-operação, diferentemente do que anunciou a empresa →
Trilha que percorre os antigos caminhos dos Incas une história, conservação e arqueologia
Com 30 mil km que ligam seis países, a grande Rota dos Incas, ou Qapac Ñan, rememora um passado que ainda está presente na paisagem e cultura local →