É fim de março, ainda um período quente e de chuvas intensas, que favorecem a proliferação do mosquito Aedes, que ao picar pessoas, espalha o vírus da dengue, doença que causa febre, dores musculares e articulares fortes e, em casos graves, pode matar. A mortalidade é de uma pessoa a cada 1.000. No município de Bodoquena, Mato Grosso do Sul, a pergunta é se o governo está tomando as providências para minimizar o problema ou se só reage depois que o número de pessoas doentes aumenta.
De acordo com o site Campo Grande News, “no início deste ano [de 2014], a cidade [de Bodoquena] chegou a liderar a incidência de casos da doença em Mato Grosso do Sul com o registro de 195 casos suspeitos”.
Cristiane Geller, Veterinária e responsável pelo departamento de controle de vetores (animais como ratos, mosquitos e baratas que servem como intermediário da transmissão de doenças), do governo municipal, diz que “em Bodoquena, há precaução durante todo o ano, em especial nos períodos chuvosos”. O controle da dengue é feito através do borrifo de venenos, que matam o mosquito nos lugares em que ele ocorre.
Em Bodoquena, os casos se concentram no centro da cidade e nos bairros Jardim Planalto, Morro Verde e Pereira Solto. São os locais onde há mais pontos de água parada, onde as larvas do mosquito se reproduzem.
Devido às medidas do poder público, os casos estão diminuindo. As últimas medições mostram que foram registrados 6.083 casos em 2012, e 485 em 2013. Mede-se a incidência do dengue através de um programa chamado SISPNCD (Sistema do Programa Nacional de Controle da Dengue). O método LIRa (Levantamento de Índice Rápido), permite saber em curto espaço de tempo quais áreas têm alta infestação. Essas informações facilitam direcionar com mais eficiência ações da secretaria municipal de saúde contra a doença.
Para calcular o índice de infestação do mosquito, coletam-se as larvas, faz-se um relatório e o número de larvas é inserido em um programa de computador que calcula em que nível o programa está. Essas análises permitem mapear os casos e as regiões onde o problema é recorrente.
“É frequente o cidadão estar com dengue e não ir a um hospital ou ao centro de atendimento. Fica em casa, medica-se sozinho e, assim, não entra na estatística de casos notificados, o que dificulta saber onde estão os principais focos”, diz Rosangela Ferreira, agente de saúde do município.
Venenos usados no combate
Segundo Geller, um levantamento revelou que o inseticida Deltametrina não estava fazendo efeito. “Trocamos porque o mosquito se tornou resistente esse inseticida”, explicou Cristiane. Por isso, a Secretária de Saúde Municipal solicitou à Secretaria Estadual de Saúde a troca do inseticida pelo Malathion, eficaz para matar os pernilongos. Após a substituição, o número de casos despencou. Apenas um caso foi notificado em 15 dias, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde.
Cada veneno tem seus efeitos indesejáveis. Eles podem matar animais, por exemplo, como pássaros, peixes e insetos (dentre outros de pequeno porte). Outro problema é o veneno ficar grudado nas calhas das casas. Quando chove, ele escorre para rios e lagos e pode provocar a morte dos peixes.
O Deltametrina é um pesticida. Causa problemas no sistema nervoso dos insetos, mas pode ser danoso também a seres humanos, caso haja exposição. Já o Malathion é um composto químico tóxico. Nas pessoas, distorce os níveis de replicação do DNA celular e produz aberrações cromossômicas. Pode gerar efeitos como tonturas, convulsões, vômitos e diarreias e até causar câncer e infertilidade em homens e mulheres, segundo as informações da sua ficha técnica.
Educar para combater
Para reduzir os casos de dengue, o município tenta sensibilizar a população. Faz-se mutirão para coleta de lixo e os locais de maior incidência são notificados. Há uma proposta da população de aplicar multas a cada proprietário de residência e terreno onde seja encontrado foco do mosquito da dengue.
Escolas municipais e estaduais fazem um trabalho educativo com os alunos. O Programa de Erradicação do trabalho infantil (PETI) usa trabalhos artesanais educativos para ensinar o combate à dengue. Os agentes comunitários estão preparados para orientar a população de casa em casa.
Mas Bodoquena não está sozinha. A doença também afeta municípios vizinhos como Bonito, Corumbá e Miranda.
*O grupo ParaTudo Bodoquena é formado pelos jornalistas-cidadãos Bianca Silva de Souza, Elissandra A. Medeiros Barretos, Fernanda Évellyn, Thaiz Pereira, Alexsander Andrade, Letícia Stéfani, Ludmila Saldanha Escobar, Rosemeire dos Santos Araújo da Cunha |
Leia também
Só 35,2% das cidades brasileiras contam com rede de esgoto
Confira o ranking dos Estados com mais cidades do Brasil
Pesquisa relaciona malária com o desmatamento
Leia também
A divulgação é o remédio
Na década de 1940, a farmacêutica Roche editou as Coleções Artísticas Roche, 210 prospectos com gravuras e textos de divulgação científica que acompanhavam os informes publicitários da marca →
Entrevista: ‘É do interesse da China apoiar os planos ambientais do Brasil’
Brasil pode ampliar a cooperação com a China para impulsionar sustentabilidade na diplomacia global, afirma Maiara Folly, da Plataforma CIPÓ →
Área de infraestrutura quer em janeiro a licença para explodir Pedral do Lourenço
Indígenas, quilombolas, ribeirinhos, peixes endêmicos e ameaçados de extinção serão afetadas pela obra, ligada à hidrovia exportadora →
Muito bom o conteúdo! Gostaria de deixar uma leitura complementar sobre tratamento de dengue, caso tenha interesse em saber um pouco mais sobre esse assunto: https://blog.vitta.com.br/2020/07/15/tratamento-d…