A Feira de Novos Empreendedores, realizada esta semana na PUC-Rio, encheu o pilotis da universidade carioca com estandes de roupas, joias e acessórios. Mas o que poderia ser apenas outro templo para o consumo, virou o palco para bons exemplos de empreendedorismo sustentável. As marcas, criadas pelos próprios alunos, exibem produtos feitos de forma praticamente artesanal, que trazem embutida uma conduta ambientalmente responsável onde o objetivo é não desperdiçar.
Uma dessas iniciativas é o Mó Estúdio, que surgiu em março deste ano com a proposta de criar produtos a partir do reaproveitamento de materiais. O carro-chefe da companhia é o Skate Costella, feito a partir de sobras de madeira compensada da fábrica em que a empresa está encubada, a Artes e Ofícios. O resto da madeira deles, que seria descartado, é captado pelo estúdio, cortado em ripas para melhor aproveitamento e depois transformado, artesanalmente, no skate. “O Costella nasceu do lixo deles, assim como vários outros projetos nossos são feitos a partir desse reaproveitamento do lixo”, explica Larissa Azevedo, 23 anos, uma das designers responsável pela marca. “O lixo, não é lixo, na verdade é a sobra de um produto que você pode aproveitar para outro, e assim evitar a aglomeração de sobras e o desperdício”.
Na mesma proposta de reaproveitamento surgiu o Estúdio Ripa, voltado para criação de jóias. Uma das criadoras da marca, a recém-formada jornalista Gabriella Côrte, explica que o segmento de joia costuma ser automaticamente relacionado à metais e pedras preciosas, mas que esses são recursos, além de não serem renováveis, são muitas vezes extraídos de forma exploratória e nociva ao meio ambiente. “A gente queria dar ao nosso usuário o consumo consciente”, resume. Gabriella conta que na produção o lema é “reusar e tentar esgotar ao máximo os materiais, para não ter desperdício”. Além de reaproveitar madeira que seria descartada, na Ripa até o pó lixado é reutilizado como adubo de horta. “Até o que sobra da prata que a gente usa em algumas peças, volta a virar fios e chapas, nada é jogado fora”.
De acordo com a supervisora do Núcleo de Empreendedorismo da PUC, Luiza Martins, que apoiou a organização da feira, a tendência por iniciativas sustentáveis está cada vez maior no mercado. “Cada vez as pessoas percebem que os recursos não são infinitos e que precisamos otimizá-los e reaproveitá-los para não ficarmos sem”, disse Luiza. A feira comprovou que soluções não faltam para reaproveitar os materiais, mas ela conta que o maior entrave para esses produtos se popularizarem ainda é o preço. “O produto sustentável é mais caro do que é produzido em massa, porque existe todo um processo por trás daquele produto, em razão dessa preocupação ambiental que torna a produção mais custosa”, explica.
O designer e criador da marca Maré, João Victor Azevedo, reforça: “eu luto para que todos aspectos do produto sejam dentro de uma lógica consciente de sustentabilidade, eu poderia até baratear, mas eu teria que mandar as peças para China e perderia toda a minha consciência com isso”. A Maré, criada em 2015, é especializada na produção de relógios a partir de materiais reaproveitados. Desde o corpo do relógio, feito de madeira de demolição ou restos de móveis, até o painel, pintado com tintas naturais, como o cacau, o açafrão e a beterraba. As pulseiras são de lona reciclável, câmera de pneus reutilizada ou das sobras de couro de uma fábrica de cintos.
A ideia da marca surgiu exatamente com a constatação do desperdício de madeira, inclusive de madeiras nobres. “A gente percebeu que saiam caçambas repletas de madeira descartada pelos laboratórios de design da PUC e pensou no que poderíamos fazer com elas”. Na Maré, assim como no Mó Estúdio e no Ripa Estúdio, imperam os três R’s: Reduzir, reutilizar e reciclar. Mas, também, repensar os processos de produção e de consumo. João se orgulha, “meu produto ainda não é 100% sustentável, mas é 100% consciente”.
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