*Texto originalmente publicado no Blog do Infoamazonia, por Stefano Wrobleski.
O Peru encerrou 2014 com 112,8 mil hectares a menos de floresta amazônica em relação a 2013. A perda representa 0,15% da cobertura do bioma no país e fez a nação ficar na liderança dos desmatadores entre os oito países que, além do Brasil, dividem a Amazônia. Os dados são do projeto Terra-i, iniciativa de cinco organizações de pesquisa que mapeia alterações da cobertura vegetal em tempo “quase real” na América Latina. O desmatamento brasileiro oficial em 2014 foi quatro vezes maior, de 480 mil hectares.
A região mais atingida é Loreto, que fica no nordeste do país e concentrou 49 mil hectares de desmatamento – ou 44% do total no Peru. “Há bastante desmatamento de tamanho industrial para cultivos”, explica Louis Reymondin, analista de dados do Terra-i. Enquanto o norte da região, onde nasce o Rio Amazonas, é dominado pelo plantio de cacau, no sul a devastação é causada principalmente por plantações de dendê.
Tempo “quase real” |
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A definição é usada para sistemas que detectam alterações na cobertura vegetal com alta frequência de atualização. No caso dos sensores MODIS, da NASA, os dados chegam diariamente, mas um mosaico sem nuvens é apenas possível a cada 16 dias, o que permite uma atuação mais rápida dos fiscais ambientais que usem estas informações. |
Ainda de acordo com o pesquisador, apesar da liderança peruana em números absolutos, a Bolívia ficaria à frente dos países que mais desmataram a Amazônia se os números da devastação fossem proporcionais à área de seus territórios amazônicos. Com uma destruição de 83 mil hectares em 2014, 0,17% das florestas do país foram devastados. A lista não considera o desmatamento no Brasil.
Os dados revelam que em 2014 houve uma redução no desmatamento em relação a 2013, de 356,1 mil hectares para 296,4 mil hectares. A redução se deve a uma queda drástica no desmatamento na Colômbia, embora haja uma tendência de alta acentuada no Peru e no Equador. Veja o gráfico abaixo.
Desde 2004, a Amazônia perdeu 3,1 milhões de hectares nos oito países que compõem o bioma além do Brasil (Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela). A área é maior que o estado do Alagoas – 2,7 milhões de hectares. Mais de um terço desta devastação (1,3 milhões de hectares) ocorreu na Bolívia. Os locais exatos onde houve perda de florestas já estão disponíveis no mapa de desmatamento do InfoAmazonia.
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Validação de dados
Para obter os alertas de desmatamento, a equipe do Terra-i utiliza dados de sensores MODIS a bordo de satélites da NASA, a agência espacial dos Estados Unidos. O método também é empregado nos alertas de desmatamento da Amazônia disponibilizados no Brasil pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). A principal diferença entre as informações disponibilizadas por cada organização refere-se à interpretação dos dados que chegam da NASA.
No início de junho deste ano, o Terra-i fez uma viagem de validação de campo dos pontos de desmatamento que o projeto verificou na região do distrito peruano de Yurimaguas, que fica na região de Loreto. Com a viagem, os pesquisadores da iniciativa puderam avaliar possíveis incongruências entre os dados divulgados e a realidade de campo. “Esta foi a segunda viagem que fizemos. A primeira foi em 2012 e o que observamos é que, nos dois trabalhos de campo, os resultados são bem similares [aos dados divulgados pelo Terra-i]”, afirmou Louis Reymondin.
Confira abaixo o desmatamento na região de Yurimaguas
Uma das dificuldades enfrentadas pela equipe é a resolução dos sensores MODIS, que captam desmatamentos com resolução de 250 metros e indicam pontos (ou pixels) de destruição florestal, sem apontar polígonos exatos ou áreas contíguas de devastação. Com viagens de validação, a equipe do projeto espera, de acordo com Louis, “desenvolver um método de correção das cifras de desmatamento que recebemos [do MODIS]”. “Vamos ver se podemos aproximar a realidade de campo da verificada no pixel. Podemos encontrar uma relação entre nossos dados e o que se perdeu e aplicar em outras regiões”.
O trabalho está sendo acompanhado pelo governo peruano, que está usando o sistema detectar mais rapidamente as áreas em que há desmatamento na Amazônia. O grupo também mantém contato com os governos de outros países, como Colômbia e Bolívia, que já demonstraram interesse em usar estes dados no combate à devastação ambiental em seus países.
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