Reportagens

S.O.S. Sociedade

A SOS Mata Atlântica lança Observatório Parlamentar para pressionar o Congresso a aprovar o Projeto de Lei da Mata Atlântica, que tramita há 12 anos.

Carolina Elia ·
9 de novembro de 2004 · 20 anos atrás

Há doze anos o Projeto de Lei da Mata Atlântica (PL 3.285/92) espera para ser aprovado em Brasília. Em dezembro do ano passado, o plenário da Câmara o aprovou por unanimidade, mas um forte lobby o mantém parado no Senado. Como paciência tem limite, a Fundação SOS Mata Atlântica fez um levantamento de processos relacionados a questões ambientais em tramitação no Congresso e criou o Observatório Parlamentar da Mata Atlântica. O objetivo é simples: informar a sociedade sobre os passos do legislativo na área ambiental e estimulá-la a pressionar os congressistas. Afinal, as eleições são em 2006 e os partidos querem votos.

O trabalho de compilação feito pela fundação SOS Mata Atlântica foi apresentado na terça-feira, 9 de novembro, a um grupo de deputados envolvidos com a pauta ambiental. Segundo Mario Mantovani, diretor institucional da Fundação SOS Mata Atlântica, os lobbies são um problema constante. Na Câmara, o deputado paulista Ricardo Isar tentou acabar com as áreas de preservação permanente nas áreas urbanas em nome do setor imobiliário. Mas a pressão mais forte é feita pelos ruralistas. O Projeto de Lei da Mata Atlântica impede a exploração de vegetação primária, de áreas em regeneração avançada e estabelece regras rígidas para a exploração de áreas em estágio médio de regeneração. Atualmente, um grupo de ruralistas sugeriu aprovar o projeto de lei em troca da redução da reserva legal da Amazônia, de 80% para 50% da área protegida na região.

Outra pedra no caminho da aprovação do projeto no Senado é a bancada do PFL. Ela não abre mão do direito de indenização caso a aplicação da lei reduza o potencial econômico da propriedade rural. O senador César Borges (PFL-BA) defende alterações no conteúdo do projeto. Se isso acontecer, o PL da Mata Atlântica terá que voltar para a Câmara dos Deputados. “Estamos nos dedicando a pressionar o senador César Borges para ver se ele cede e para que, se tiver alterações, elas possam ir o mais brevemente para a Câmara dos Deputados”, diz Mário.

Mas Mário Mantovani reconhece que o mais atrapalhou a aprovação do PL durante os últimos 12 anos foi o fato de a sociedade civil não estar envolvida e não ter conseguido dar peso político à questão. A finalidade do Observatório Parlamentar é consertar esses erros. A SOS Mata Atlântica quer transformá-lo em um mecanismo de prestação de contas do legislativo para com a sociedade. O seu conteúdo está disponível no site da fundação e será constantemente atualizado com o acompanhamento das leis, de maneira que a população poderá conhecer e fiscalizar as decisões do Congresso em relação ao meio ambiente. “No próximo ano vamos apresentar os deputados e seus pensamentos.” revelou Mário.

O site é bem didático, exatamente para quem não tem intimidade com os trâmites do legislativo. Explica como nasce uma lei, o que é um projeto de lei, o que é uma medida provisória e como se faz o orçamento. Também tem glossário e definições de siglas.

O conteúdo do Projeto de Lei da Mata Atlântica foi simplificado e divido em tópicos, o que facilita a leitura. Ali, em poucas linhas, está a história da Mata Atlântica. O documento lembra que originalmente a floresta cobria uma área superior a 1,3 milhão de km2 (o equivalente a 13,04% do país), distribuída por 17 estados, e que hoje resta apenas 7,3% desse total. Durante os 12 anos que se passaram sem a aprovação do PL, a Mata Atlântica perdeu mais de 10 mil km2. Atualmente, o ritmo do desmatamento é de um campo de futebol a cada 4 minutos.

Mesmo bastante reduzido e fragmentado, esse ecossistema ainda tem muito valor. O Observatório Parlamentar afirma que a Mata Atlântica influencia diretamente a vida de mais de 80% da população brasileira. Ela regula o fluxo dos mananciais hídricos, a fertilidade do solo, controla o clima e protege escarpas e encostas das serras. A Mata Atlântica também abriga nascentes de rios que abastecem cidades e é cortada por rios importantes como o São Francisco, o Tietê, o Paraíba, o Paraíba do Sul e o Paraná. Ela garante o abastecimento de água para mais de 120 milhões de pessoas.

O Observatório também divulga proposições em tramitação no Congresso, como a que penaliza a biopirataria. O visitante também pode ver o que foi gasto do orçamento da União este ano com questões ambientais. Com a despoluição das lagoas, por exemplo, não foi gasto nenhum centavo.

Segundo Mario Mantovani, existem cerca de 70 deputados e alguns senadores a favor da causa — tirando aqueles que só querem “aparecer bem na fita”. “É um bom número, mas precisamos de mais estrutura e respaldo na participação dos eleitores para dar peso aos temas que eles defendem”, conclui.

Leia também

Diálogo entre líderes globais - alinhando a ação climática e a conservação da biodiversidade. Foto: Kamran Guliyev / UN Climate Change
Notícias
21 de novembro de 2024

ONU espera ter programa de trabalho conjunto entre clima e biodiversidade até COP30

Em entrevista a ((o))eco, secretária executiva da Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB) da ONU fala sobre intersecção entre agendas para manter o 1,5ºC

Reportagens
21 de novembro de 2024

Livro revela como a grilagem e a ditadura militar tentaram se apoderar da Amazônia

Jornalista Claudio Angelo traz bastidores do Ministério do Meio Ambiente para atestar como a política influencia no cotidiano das florestas

Notícias
21 de novembro de 2024

MPF afirma que Pará faz propaganda “irresponsável” de ações contra queimadas

Procuradoria da República no estado apontou “discrepância entre o discurso e a prática”; procuradores pediram informações a autoridades estaduais e federais

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.