O Protocolo de Kyoto entrou em vigor, mas só fizeram festa os ambientalistas e diplomatas. Trata-se do primeiro tratado internacional com o objetivo de reduzir a emissão dos principais gases responsáveis pelo aquecimento global, mas como isso será feito permanece em aberto. A maioria das sugestões envolve sacrifícios e adaptações das indústrias e governos, mas o mercado poluidor busca uma solução científica de proporções milagrosas.
Nos Estados Unidos, que não ratificaram o tratado e lançam uma média imbatível de 5,8 bilhões de toneladas de gás carbônico (CO2) por ano na atmosfera, o governo investiu 1 bilhão de dólares em pesquisa para inventarem uma termelétrica ecologicamente correta. Empresas privadas injetaram milhões em projetos de energia limpa que estão sendo desenvolvidos em grandes centros de estudo como Stanford e Princeton. Já a Universidade de Columbia criará um prêmio internacional para incentivar propostas que levem à redução da emissão de CO2. Um de seus catedráticos, o físico Klaus Lackner, já desenvolveu uma máquina capaz de sugar gás carbônico do ar e armazená-lo em pedras no subsolo. Algumas rochas absorvem o gás.
Técnicas parecidas começaram a ser implantadas pela indústria petroleira. Em pleno deserto do Saara, a British Petroleum começou a bombear CO2 para debaixo do solo, a mais ou menos 2 quilômetros de profundidade. O governo britânico tem acompanhado a experiência de perto e planeja incentivar outras companhias de petróleo a enterrarem o gás em poços desativados no fundo do mar. Segundo especialistas, o problema dessa técnica é o custo.
Mas há outras soluções mirabolantes para o aquecimento global além de varrer gás carbônico para baixo do tapete da Terra. Uma é incluir na dieta dos bois, que expelem gás metano quando arrotam, uma bactéria capaz de diminuir em 20% a poluição provocada pelos bichos. Pode parecer bobagem, mas no Brasil o gado compete com o desmatamento da Amazônia pelo posto de maior responsável pelo aquecimento do planeta. Outra proposta seria instalar tanques de ferro no fundo do mar que incentivariam o surgimento de uma superpopulação de fitoplânctons. Como as árvores, esses pequenos organismos consomem CO2 durante o processo de fotossíntese. Uma espécie de seqüestro de carbono marinho.
Mas as propostas mais incríveis surgiram na década de 60 e 70, quando a comunidade científica começou a suspeitar que a revolução industrial tinha afetado o clima da Terra. Diminuir o uso de combustíveis fósseis era a última opção. Mais fácil seria espalhar alguma substância no mar que fizesse com que o gigantesco espelho d’água refletisse ainda mais a luz do sol. Ou cortar a estratosfera diariamente com jatos que queimariam enxofre e produziriam aerossol, que também reflete a luz solar.
Idéias parecidas ainda pairam nas rodas científicas do século XXI. O norte-americano John Latham, especialista em atmosfera, desenvolve no Colorado um projeto para aumentar a capacidade de reflexão de certos tipos de nuvens e transformá-las em escudos naturais. Um processo, segundo ele, simples. Bastaria espalhar pelos mares lanchas que lançariam água na altitude necessária para que pequenas gotículas salgadas fossem parar nas nuvens. Elas aumentam a capacidade de certas nuvens de refletirem a luz do sol. As lanchas, movidas a energia eólica, seriam orientadas por satélites para se deslocarem até as regiões que tivessem as condições meteorológicas ideais para a atividade.
Enquanto os tecnólogos tentam saciar os desejos dos governos e das indústrias, outros setores da sociedade apresentam soluções mais práticas para lidar com o problema. O primeiro passo poderia ser mudar o estilo de vida americano. No próprio Colorado, os moradores decidiram por voto que, até 2015, 10% da energia do estado deverão ser gerados por fonte solar ou eólica. Um estudo aponta que se os americanos andassem a pé ou de bicicleta para percorrer curtas distâncias, além de reduzir o problema de obesidade fariam o consumo de gasolina no país cair 35%. A quantidade de gases poluentes que deixaria de ser emitida equivale a 10% das emissões norte-americanas em 1990. Algo muito próximo do que o Protocolo de Kyoto reivindicaria ao presidente Bush, amante do petróleo.
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