O desmatamento na Amazônia subiu 21,97% entre 1º de agosto de 2020 e 31 de julho deste ano, em comparação com os 12 meses anteriores, atingindo a marca de 13.235 km². É a mais alta taxa desde 2006. No período anterior (agosto de 2019 a julho de 2020) o corte raso da floresta foi de 10.851 km². A estimativa, que acaba de ser divulgada, é fruto do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Este é o segundo balanço anual do desmatamento na Amazônia Legal apurado integralmente no governo Bolsonaro, que acumula recordes de derrubada da floresta.
Em 2018, último ano antes da atual gestão, o desmatamento anual estimado pelo INPE foi de 7.536 km². Em 2019, quando o período analisado compreendia parte no novo governo, a cifra subiu para 9.762 km². Em 2020, primeiro ano em que o balanço do INPE foi feito integralmente sob o governo Bolsonaro, o número subiu para 10.851, e agora, 13.235 km².
O documento do INPE com as estimativas, publicado nesta quinta-feira (18) no site do Instituto, é datado do dia 27 de outubro, o que significa que o Brasil deliberadamente escondeu os dados do desmatamento na Conferência do Clima da ONU. Segundo informa a página do INPE, os dados “estavam sendo revisados”.
Historicamente, a divulgação das estimativas do PRODES é feita antes ou durante a COP. Segundo levantamento realizado por ((o))eco, desde 2005, quando o INPE começou a divulgar os números do desmatamento no próprio ano em que ocorreram, somente em 2016 o anúncio foi feito após a Conferência. Naquele ano, o Prodes havia indicado aumento de 29% no desmatamento em relação ao período anterior.
O desmatamento é o maior responsável pelas emissões de carbono no Brasil e um dos temas-chave nas discussões que ocorrem no âmbito da Conferência.
Também chama atenção o fato de a imprensa não ter sido comunicada sobre a data e forma de divulgação. Em anos anteriores, o anúncio da data era feito com antecedência para a imprensa e os dados divulgados em evento presencial, com possibilidade de questionamentos a autoridades.
“A definição da data de divulgação e como ela será realizada é sempre feita pelos ministros, em Brasília”, explicou a ((o))eco o coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e Demais Biomas do INPE, Cláudio Almeida.
Durante toda a COP 26, o número foi cobrado por ambientalistas e especialistas em desmatamento, justamente por ser ele um medidor das políticas públicas sobre o tema.
As dúvidas sobre a iniciativa do governo em esconder os números durante a Conferência do Clima ganharam mais força na última quarta-feira (17), quando o sindicato dos servidores do INPE (Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do setor Aeroespacial), informou ser “pura mentira” que o relatório anual do desmatamento ainda não tinha sido finalizado.
Segundo nota do sindicato, o relatório técnico para a estimativa preliminar da taxa anual foi finalizado pelos especialistas do Instituto no período normal, em meados de outubro. O documento, então, foi enviado no mesmo período, via Sistema Eletrônico de Informações (SEI), para a direção do INPE, que o teria repassado ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI).
De acordo com o sindicato, “no dia 10 de novembro, quando fez seu pronunciamento, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, já deveria estar de posse da taxa anual de desmatamento. Não falou porque não quis; ou, para também não levar ‘porrada’”
Em coletiva de imprensa realizada agora no final da tarde, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, culpou o INPE pelo atraso na divulgação dos dados.
Ao citar a diferença entre os números do Programa Deter – que afere o desmatamento em tempo quase real e havia indicado redução de 5% no desmatamento em relação a 2020 – e os números do PRODES, que traz a estimativa oficial anual e apontou alta de 22%, Leite disse que “talvez tenha sido por cautela que o INPE tenha atrasado a divulgação desses dados, para fazer alguma revisão […] Eu tive contato com o dado hoje”.
Segundo apurou ((o))eco, de fato as estimativas foram enviadas em outubro via SEI para o Ministério de Ciência e Tecnologia, assim como denunciou o SindCT. Cabia ao ministro Marcos Pontes repassar os dados ao MMA e à presidência da República. “Leite se faz de desavisado”, diz uma fonte do Instituto, que preferiu não se identificar, por medo de represálias.
Ainda durante a coletiva de imprensa, Leite foi questionado se o dado não era importante para as negociações na COP, no que disse: “Em nenhum momento, nenhum outro país apontou suas fragilidades. O foco do encontro não era esse”.
Desmatamento nos Estados
Segundo as estimativas do PRODES, os estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia foram responsáveis por 87,25% do desmatamento estimado pelo INPE para a Amazônia Legal no período. Tais unidades da Federação acumularam 39,7%, 17,73%, 17,10% e 12,70% do total desmatado, respectivamente. Acre ficou em 5º no ranking, com 6,58%, seguido por Roraima, com 2,92%, Maranhão, com 2,74%, Amapá, com 0,29% e Tocantins, com 0,21% do total.
Estado | PRODES 2021 (km2) | Contribuição (%) |
---|---|---|
Acre | 871 | 6,58 |
Amazonas | 2.347 | 17,73 |
Amapá | 39 | 0,29 |
Maranhão | 363 | 2,74 |
Mato Grosso | 2.263 | 17,10 |
Pará | 5.257 | 39,72 |
Rondônia | 1.681 | 12,70 |
Roraima | 386 | 2,92 |
Tocantins | 28 | 0,21 |
TOTAL | 13.235 | 100,00 |
“O resultado é fruto de um esforço persistente, planejado e contínuo de destruição das políticas de proteção ambiental no regime de Jair Bolsonaro. É o triunfo de um projeto cruel que leva a maior floresta tropical do mundo a desaparecer diante dos nossos olhos e torna o Brasil de Bolsonaro uma ameaça climática global”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Diferentemente da propaganda que o governo e seus aliados no agro e na indústria levaram à COP26, em Glasgow, o Brasil real é este, da terra arrasada, da violência contra populações tradicionais e do crime organizado agindo sem controle na Amazônia”, diz.
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