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Gases estufa emitidos no último ano de Bolsonaro atingem 3ª maior cifra desde 2005

Quantidade de poluentes causadores do aquecimento global lançados na atmosfera em 2022 só não foi pior do que 2019 e 2021

Cristiane Prizibisczki ·
23 de novembro de 2023

O Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa em 2022, segundo a nova coleção de dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), lançada nesta quinta-feira (23).

O número representa uma queda de 8% em relação a 2021, quando a emissão bruta calculada foi de 2,5 bilhões de toneladas. A cifra, no entanto, não é motivo de comemoração. A quantidade de poluentes causadores do aquecimento global lançada pelo país no ano passado é a terceira maior desde 2005, só perdendo para 2019 e 2021.

Segundo o SEEG, a queda verificada em 2022 foi puxada pela redução da taxa de desmatamento na Amazônia e por chuvas abundantes que causaram uma redução recorde no acionamento de termelétricas fósseis. 

Considerando as emissões líquidas – quando as remoções feitas pelas florestas ainda em pé entram na conta -, a queda é de 11%: de 1,9 GtCO2e para 1,7 GtCO2e no mesmo período.

Esta é a 11ª edição do SEEG, realizado pelo Observatório do Clima com a parceria de diferentes organizações brasileiras.

Emissões por setores

Em 2022, o setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas, que inclui a devastação de todos os biomas brasileiros, continuou com a maior fatia das emissões: 1,12 bilhão de toneladas brutas de gás carbônico equivalente (CO2e), ou 48% do total nacional.

A esmagadora maioria desse total – 837 milhões de toneladas – veio do desmatamento na Amazônia, que, apesar da antipolítica ambiental do governo passado, caiu 11% em 2022. No Cerrado, porém, as emissões por desmatamento cresceram 13%, para 159 milhões de toneladas. 

“O desmatamento na Amazônia, infelizmente, ainda é o botão de volume das emissões de gases de efeito estufa do Brasil. O novo governo tem agido para reduzir esse volume, o que tem surtido efeito na Amazônia, mas vai ser preciso continuar esse esforço de comando e controle e políticas de incentivo à economia sustentável para levá-lo a zero, como prometeu o presidente, assim como incluir outros biomas nessa tendência”, diz Bárbara Zimbres, do Instituto de Pesquisas da Amazônia (IPAM), parceira nas medições.

O setor de agropecuária fica em segundo lugar no ranking de maiores emissores,  com 617 milhões de toneladas de CO2e, ou 27% do total. O número representa aumento de 3% em relação a 2021.

Energia vem em terceiro lugar, com 412 MtCO2e, ou 18% do total nacional. O número representa queda de 5% em relação ao ano anterior. Os setores de resíduos (91 MtCO2 e, oscilação de 1% para baixo) e processos industriais (78 MtCO2 e, queda de 6%) representam, respectivamente, 4% e 3% do total de emissões do país.

Espaço para metas mais ambiciosas

As medições do SEEG consideram as emissões brutas, que representam o que de fato o país lança na atmosfera. O Governo Federal,  no entanto, usa as emissões líquidas – quando a absorção pela vegetação nativa é considerada – ao se reportar à Convenção do Clima da ONU.

Em 3 de novembro, o governo federal depositou junto à convenção uma aguardada atualização da NDC, desfazendo a “pedalada de carbono” dos anos Bolsonaro e se comprometendo com dois limites absolutos de emissões líquidas: 1,3 GtCO2e em 2025 e 1,2 GtCO2e em 2030. 

A equipe do SEEG analisou as perspectivas de cumprimento das metas com base no histórico de emissões de 1990 a 2022 e concluiu que ambas estão ao alcance: a meta de 2025 seria atingida com uma redução de 33% na taxa de desmatamento na Amazônia nos próximos dois anos – num cenário conservador, no qual as emissões dos outros setores permanecem aproximadamente constantes; e a de 2030 poderia ser excedida em muito, caso o governo cumpra a promessa de Lula de zerar o desmatamento.

“O que os dados do SEEG mostram é que há muito espaço para aumento da ambição climática do Brasil. E, se o governo estiver falando sério sobre ser o grande defensor da meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5oC acima da média pré-industrial, terá de aumentar a ambição da NDC atual já para 2030, como todos os grandes emissores precisam fazer”, disse David Tsai, coordenador do SEEG.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

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