Pela primeira vez, a pasta ambiental fluminense terá três mulheres no primeiro escalão. As escolhas da nova secretária do Ambiente e Sustentabilidade, Ana Lúcia Santoro, mostram uma tentativa de fortalecer os perfis técnicos de uma pasta que passa por momento de ebulição. Entre os novos gestores, há o entendimento de que o período em que o deputado André Corrêa (DEM) mandou na secretaria foi marcado por pressões políticas e pelo enfraquecimento dos quadros de carreira. A prisão de Corrêa, em 8 de novembro passado, foi o combustível para uma troca ruidosa, ou não muito amistosa. Ele foi acusado de receber propinas, chamadas de “mensalinho”, durante o governo Sérgio Cabral.
Em entrevista exclusiva ao ((o))eco, a bióloga Ana Lúcia, de 33 anos, diz que o “corpo técnico da Secretaria precisa voltar ao planejamento” e avisa que ela e outras mulheres não temem pressões – “não nos intimidamos mais” – e sugere Parcerias Público-Privadas (PPPs) para fortalecer o uso público dos parques: “Conservação deve estar aliada à conscientização ambiental, a comunidade precisa conhecer, desfrutar e incorporar as UCs nas suas rotinas. As PPPs podem sim contribuir para alcançarmos alguns dos objetivos”.
O Diário Oficial trouxe nomeações de mulheres para cargos estratégicos da SEAS, com currículos extensos na área ambiental. Eline Martins (Conservação Ambiental e Clima), Cristiane Jaccoud (Gestão Ambiental) e Renata Oliveira (Rec. Hídricos) são especialistas nos temas e têm robusto currículo. A senhora teve carta branca do governador? Como foram as negociações para trazer essas profissionais, com fortes atuações acadêmicas?
Meu currículo e minha qualificação e experiência na área ambiental foram o que pautaram o convite do governador Wilson Witzel para que eu assumisse a secretaria. O trânsito na academia e o conhecimento na área técnica foram pontos a meu favor. Replicar meu perfil nas subsecretarias é garantir a realização do trabalho conforme planejado. São minhas extensões. Não só elas, mas todo o meu time de subsecretários é muito capacitado e experiente.
Como encontrou a SEA e como foi a transição? O fato de sete mulheres estarem em cargos de comando é algo inédito, importante e histórico. Te preocupa algum tipo de reação contrária?
A transição foi eficiente dentro do possível. Procuramos conversar com cada setor para identificar o andamento de cada área e questões sensíveis específicas. Criamos um grupo de trabalho para levantamento de projetos e ideias que ajudem a melhorar as atividades da Secretaria. O fato de termos essas mulheres no comando muito me orgulha, mas principalmente por serem pessoas muito capacitadas e competentes. Para chegarem onde estão certamente já enfrentaram muitos desafios, não nos intimidamos mais. O trabalho e os resultados falam por si, e a competência se sobrepõe a todo tipo de dificuldade.
O termo “clima” aparece duas vezes em subsecretarias e superintendências, o que denota preocupação de sua gestão com os efeitos das mudanças climáticas no Estado. É uma visão diferente da do ministro Ricardo Salles, que já afirmou que essa é uma questão menor. Quais as diretrizes do governo Witzel nessa área?
Na verdade, a SEAS está passando por um processo de reestruturação e os nomes estão em construção ainda. Mas, sem dúvida, a questão do clima e, principalmente, no que se refere a segurança hídrica, será trabalhada e considerada na Gestão Ambiental do Estado.
Que tipo de reorganização estrutural da SEA você pensa em fazer? Recursos Hídricos voltará a ter uma diretoria (Digat) no Inea?
A reestruturação visa principalmente fazer com que o corpo técnico da Secretaria se volte novamente para o planejamento e orientação estratégica das políticas públicas ambientais. O Inea volta a ter força como órgão gestor de recursos hídricos, em total articulação com as diretrizes fornecidas pela SEAS.
Qual será o foco do trabalho de Eline Martins (Conservação)? Quanto à gestão das UCs, como você pensa em estruturar os parques? PPPs podem ser um caminho?
O trabalho liderado pela Dra. Eline Martins estará focado no estudo e planejamento das políticas públicas, para atuar em parceria com a Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas (Dibape) e outros setores do Inea. As Unidades de Conservação serão apenas um dos pilares do nosso trabalho. A ideia é pensar em ferramentas, como por exemplo, o Projeto Olho no Verde, que nos permitam ampliar os horizontes de atuação e fiscalização dentro e fora das Unidades. Conservação deve estar aliada à conscientização ambiental, a comunidade precisa conhecer, desfrutar e incorporar as UCs nas suas rotinas. As PPPs podem sim contribuir para alcançarmos alguns dos objetivos.
As metas de 180 dias anunciadas por Witzel falam em reuso de água em duas ocasiões. Sobre o Paraíba do Sul, quais as ideias? As empresas do Canal de São Francisco vão ter que buscar água na ETA Guandu (da Cedae)?
O reúso e o reaproveitamento de águas residuárias é um tema que receberá atenção prioritária e já estamos estudando como viabilizar projetos de maior porte. A bacia do Paraíba do Sul é estratégica e é importante que os instrumentos da política de recursos hídricos, como a outorga e os planos de bacia, estejam sendo implementados da melhor forma. Neste caso especificamente vamos estabelecer uma parceria com a ANA para melhorar a gestão compartilhada na bacia e trabalhar para a garantia de segurança hídrica do Estado.
Como será sua interface com a Secretaria estadual de Infraestrutura? As obras da Diram (Inea) continuarão com vocês?
O Inea permanece atuando através da Diretoria de Recuperação Ambiental (Diram). Vamos trabalhar integrados.
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