Projeto busca transformar o sapo-foguetinho em símbolo para a conservação do Cerrado

O sapo-foguetinho-do-Cerrado (Allobates goianus) é um pequeno anfíbio, de apenas 18 milímetros, encontrado em poucas áreas de Cerrado no estado de Goiás. Seu apelido curioso vem do nome em inglês, Cerrado Rocket Frog, e do fato de ser uma espécie bastante difícil de capturar, por dar saltos rápidos como foguetes. 

Essa emblemática espécie, que até recentemente era considerada como ameaçada de extinção, foi escolhida por uma equipe de cientistas para ter um projeto só seu, o Projeto Sapo-Foguetinho-do-Cerrado. Coordenado pelo Instituto Boitatá, o projeto envolve pesquisas focadas nesta espécie e em outras da fauna do Cerrado, em um esforço contínuo para conservar e destacar a importância do Bioma.

Os pesquisadores do projeto concluíram que o sapo-foguetinho é extremamente raro em quase toda sua distribuição, com evidências de pelo menos uma extinção recente de uma população. “Fizemos buscas extensivas em mais de 60 localidades no estado de Goiás. Mesmo unindo esforços com outros grupos de pesquisa, só conseguimos encontrar populações em menos de 10 localidades”, ressalta Werther Ramalho, pesquisador do Instituto.

Os pesquisadores alertam ainda sobre o tamanho reduzido das populações conhecidas: “Poucas parecem ser grandes, e vivem em áreas mais preservadas como a Chapada dos Veadeiros. A maioria das que encontramos parecem ser muito pequenas, com poucos indivíduos adultos, e estão sofrendo impactos diretos do contínuo e desordenado crescimento agropecuário”, lamenta Werther.

A equipe ressalta a importância do monitoramento dessas populações, tendo feito visitas periódicas em quatro localidades, com utilização de gravadores de áudio automatizados.

Espécie-alvo

Em 2014, o Ministério do Meio Ambiente do Brasil publicou a Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Nessa lista, o sapo-foguetinho foi classificado como Em Perigo, a segunda categoria de ameaça mais alta, o que ligou o alerta para a importância de estudar melhor a espécie.

Graças ao esforço de diversos pesquisadores nos últimos anos, incluindo a equipe do projeto do Instituto Boitatá, a espécie foi melhor estudada e seu status de conservação foi reavaliado. Em julho de 2022, a Lista Oficial do Ministério do Meio Ambiente do Brasil foi atualizada, e o Allobates goianus foi classificado como Quase Ameaçado. Isso significa que a espécie não é mais considerada como ameaçada de extinção e atualmente não é formalmente protegida no Brasil.

“No geral, a redução do status de ameaça de uma espécie deve ser vista como uma boa notícia”, afirma Gabryella Mesquita, uma das diretoras do Instituto Boitatá. “No entanto, se a proteção do sapo-foguetinho for reduzida devido a esse cenário, pode ser extremamente prejudicial para a conservação da espécie, que continua claramente sofrendo ameaças como a perda de habitat”.

“Apenas o tempo dirá se a retirada da espécie da lista foi correta ou não. No entanto, o sapo-foguetinho permanece um símbolo relevante para a conservação de anfíbios no Brasil, especialmente no Cerrado”, afirma Gabryella.

O Cerrado

O Cerrado é uma das áreas mais ricas em biodiversidade do planeta, mas também uma das mais ameaçadas. Com a perda contínua de habitat e outras pressões humanas, muitas espécies, como o sapo-foguetinho, estão enfrentando sérios riscos de extinção. É o segundo maior bioma do Brasil, ocupando 21% da área terrestre do país, mas apenas 6,5% da cobertura de vegetação nativa é protegida. 

Apesar disso, suas espécies representam 30% da biodiversidade brasileira, com uma grande quantidade de espécies endêmicas, ou seja, restritas ao bioma. “Cerca de 50% dos anfíbios do Cerrado são endêmicos, não ocorrendo em nenhum outro bioma brasileiro. Com o aumento do desmatamento e degradação do meio ambiente, podemos perder boa parte dessas espécies únicas nos próximos anos”, destaca Gabryella.

Educação e Conscientização

O projeto iniciou campanhas educativas para promover a sensibilização quanto à importância da conservação do Cerrado e do sapo-foguetinho. Isso inclui a produção de materiais audiovisuais, como documentários e livros infantis, palestras em congressos, escolas e universidades.

Através da parceria com artistas, o projeto espera criar campanhas de educação focadas na promoção da sociedade em enxergar o Allobates goianus como uma espécie símbolo para a conservação da biodiversidade do Cerrado. Para isso, vem contando com apoio financeiro da Anglo American, do Fundo Nacional para a Biodiversidade (FUNBIO) e da Fundação Grupo Boticário.