Entenda o fenômeno La Niña
A La Niña representa um fenômeno oceânico-atmosférico que se caracteriza por um esfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical, na porção da costa oeste da América do Sul. Esse esfriamento das águas está relacionado à intensificação dos ventos alísios (que ocorrem entre os trópicos e o Equador), os quais se movimentam de sudeste para noroeste no Hemisfério Sul. A força dos alísios “empurra” as camadas superficiais de água do Pacífico para oeste, permitindo com que as águas profundas, mais frias, subam até a superfície (fenômeno denominado de ressurgência). Assim, o lado oeste do Pacífico recebe as águas superficiais quentes, que facilitam a evaporação e causam chuvas na região da Indonésia e Austrália, por exemplo. Já o lado leste do oceano torna-se mais frio que o normal, dificultando a evaporação de água e, assim, a formação de nuvens para chuva. As conseqüências da La Niña na América do Sul são sentidas no Rio Grande do Sul, que sofre com a escassez de precipitação. |
De acordo com Erone Londero, gerente regional da Emater/RS (Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural) em Bagé, os prejuízos tendem a ultrapassar os R$ 100 milhões, embora ainda não haja uma estimativa oficial. Por enquanto, o que se sabe é que a produção de leite, o cultivo de soja, milho e sorgo e a pecuária de corte estão entre os mais afetados pela seca na região sul. “Percebe-se grande perda, principalmente nas pequenas propriedades. As grandes estão sendo prejudicadas em menor escala. Para ter uma noção, alguns produtores familiares nem plantaram o milho ano passado, pela falta de umidade no solo. Os que plantaram, já perderam quase 50%”, conta.
A professora do departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Eliana Lima da Fonseca, também garante que é o pequeno produtor o maior prejudicado. “O produtor familiar depende do milho para o consumo pessoal, para a alimentação dos animais e silagem (estocagem para o inverno). Diferente dos produtores de suínos e aves, não tem a opção da ração que é fornecida pelas empresas que compram a produção”.
Além dos problemas atuais, a Emater/RS já prevê perdas futuras em decorrência dessa estiagem. Londero explica que agora inicia o período de cio das vacas, mas, por escassez de alimentos e, consequentemente, de força, muitas não conseguirão ficar prenhas. “Sabemos que na próxima primavera, quando as vacas darão a luz, teremos um número reduzido de terneiros. Logo, mais prejuízos na pecuária de corte”, afirma.
A falta de pasto para o gado na metade sul do RS deve-se ao fato de o campo utilizado como pastagem geralmente estar associado a solos rasos que retém pouca umidade. “Assim os efeitos da ausência de precipitação pluvial são fortemente sentidos pela vegetação campestre que é utilizada como suporte forrageiro para os animais”, garante Eliana.
A subsistência das famílias que residem em assentamentos também já está comprometida, já que começam a faltar alimentos básicos, como a batata. Londero assegura que a Emater/RS já está trabalhando junto às prefeituras, sindicatos, governos estadual e federal para buscar recursos e auxílio aos mais de 5 mil pequenos produtores atingidos pela seca. (Flávia Moraes)
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